segunda-feira, 31 de março de 2025

     



                        a coisa e o coiso



apesar dos pesares, ainda creio no amor.

Desde que sob certos requisitos, normalmente ignorados.

Mas que após tantos atropelos, tenho como

cláusulas pétreas.

Buscando correspondência e contra-partidas.

Como entre o muro e o caramujo.

A pedra e o musgo.

A calça e o suspensório.

O mico e o cipó.

A madeira e o cupim.

A coisa e o coiso.


Que haja intimidade como entre

a corda e o enforcado.

A aldrava e o portão.

O bicho e a goiaba.

O osso e o tutano.


Que o amor saiba ser vital e desimportante.

Como tudo que vive e apodrece.

Perene como palavras que secam ao sol.

Eloquente como discursos entupidos de silêncios.

Repositório de cacos de vidro, grampos, lençóis.


Mas não estranhe se mesmo assim o amor

te passar a perna.

Te fazer de otário.

Em não tendo limites nem fronteiras.

Às vezes belo e gratificante.

Em outras capaz das coisas mais ordinárias.

Em sonhos que se desfazem em outros sonhos.

Nos quais ainda se acredita 

em finais felizes.



domingo, 23 de março de 2025


                          partes que se partem





Somos parte de partes que se partem e repartem 

desencantos secretos.

Não se sabe se por sina ou maldição, perpetua-se 

a existência soterrada de enigmas e hiatos.

O homem e a besta convivem amigavelmente.

Tão próxima e tão distante é a irmandade destroçada.

Das coisas que importam vivemos nos despedindo.

Sobrevivendo a pequenos holocaustos, o fausto e 

o miséria tecem a mortalha dos incautos.

Partes que se partem sufocam os irmãos consumidos

pelo gozo dionisíaco. 

Entre idas e vindas, tudo se encontra no contrafluxo. 

Não há inocência no reino consumido por desejos fálicos.

A despeito da glória dos bordéis, tudo se explica 

nas entrelinhas.

O esculacho glorifica nossas ovações, submetendo-se

à poda das surrubas peripatéticas.

O tempo perdido morreu de velho.

A submissão vem na cola do liburno. 

A verdade constituída é um libelo que carrega 

o peso da discórdia.

Nada se revela sem armas em punho.

Saqueadores de sonhos é o que não falta.



sábado, 22 de março de 2025

sexta-feira, 21 de março de 2025

 


                o mundo não tem segredo


                           para os ignorantes


Onde se tornam erráticos os símbolos
que afetam tempo e espaço,
nascem os mitos.
Personagens migram para outros contextos,
outras paisagens.
Rompem o sistema,
as expectativas normais.
Um significado único para o que tem 
vários significados, eis a sabedoria. 
No emaranhado de símbolos em que vivemos, 
novas figuras de retórica
articulam semioses naturais.
Capazes de "ver" o mal chegar.
O flagelo, por sinédoque. Por metonímia,
os delírios da razão. 

Assim agem os personagens que conhecemos.
O paralinguístico, o supra-segmentar, o tonêmico, 
Inflexões que nos distraem e mentem.
Na publicidade que ludibria. 
No uso e abuso de artifícios, 
Representações pictóricas, encenações.
Do qual não escapam nem as Sagradas Escrituras,
Irremediavelmente mutiladas após tantas
Transcrições e traduções,
Como aponta Santo Agostinho, 
Em sua Doctrina Christiana.

Não obstante, o grande mundo pequeno se tornou.
Mais rico, mais desigual, com as mesmas dúvidas.
Nunca tão pobre em personagens, referências. 
As mentes privilegiadas preocupadas apenas em enriquecer.
Montanhas de dinheiro que jamais serão
capazes de gastar,
enquanto milhões passam fome, perdem tudo,
na Síria, no Sudão, na Venezuela. 
Sob o jugo de cruéis ditadores.
Nas periferias dos grandes centros urbanos, 
o horror da violência em suas várias facetas.
Arremessam uma pedra em alguém suspeito
e a multidão investe, bestificada.
Rompe-se o frágil sistema de expectativas normais
e ninguém vê mais nada. 
Foi assim com o Nazismo, 
com o chavismo, o lulo-petismo.
E assim sempre será.
O mundo não tem segredos para os ignorantes.


 

domingo, 9 de março de 2025



Por maior que seja a estima e a consideração,

não cometa o erro crasso de achar

que as pessoas fariam por você

o mesmo que você faria por elas. 




sábado, 8 de março de 2025


                      história interrompida





O tempo quebra 

todas as resistências.

Refaz coisas interrompidas 

e corações feridos.


O conhecimento 

cobra o preço da inocência.

Questões mal resolvidas decifram 

velhos caminhos.


A memória merencória engendra 

artifícios fac-símiles. 

Lugares abandonados 

reciclam-se 

à margem do transmutado.


Meu lascivo anti-ser é o avesso 

que já finda.

Hora de lastimar o olvido.


O apito pontual do engenho do meu avô.

A agonia das tardes de chuva preso em casa.

O velho pastor alemão cego de um olho.

O menino que brincava de desafiar a morte.

Lembranças que resistem à sentença irrevogável.


Na dobra do tempo, 

os sentimentos se misturam.

Melancolia e paz a cada 

história interrompida.

Tudo ressoa em mim

como se não tivesse fim.

Como se tudo 

já não tivesse acabado.







 



Se já não confias em ninguém.

Se já não acreditas em promessas 

e das expectativas se abstém.

Das crenças cegas desdenhas e até da própria 

sombra duvidas.

Parabéns, até que enfim aprendeste

alguma coisa na porra da vida.



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