quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024



                         roubando a loucura dos loucos





O tumulto das nuvens sobranceia almas triunfantes.

A elegância dos preconceitos emaranha-se 

em labores desafinados. 

A morte branca engendra ignorâncias iluminadas.

Nós somos a esmeralda das águas, a matiz dos colibris 

em chamas.

Ventres estéreis acalantam o mundo com seus

segredos estelares.

Cantarás e eu saberei que as feridas alumiam apoteoses.

Descansarás, pois, humildes e imaginosos

ante a clâmide austera da ciência.

Preceptores malsinados entretecem desditas silentes.

Roubando a loucura dos loucos.

Somos eras proferindo cascatas marulhentas em prol de ovações

proféticas.

Fídias esculpe o belo absoluto que a plebe ignara ignora.

Para que a erudição ? Para que o conhecimento ?

Universaliza-se a cultura do lixo para gáudio da humanidade.

LAOS DEO ! promulga a multidão apoplética.

Babel haveria de se rir de nosso destino.

Rastros de antigos acordes acabam em danças feéricas.

Nada se ajusta sem que se macule e se conspurque.

Não tenho nada contra, muito menos a favor.

Humanamente impossível não mentir.

Hoje, amanhã e sempre !

Marchamos certo, por causas tortas.

Trágicas criaturas, para onde vão ?

Votivas sensitivas ampliam os cemitérios.

Meu nome é amor mas pode me chamar de iva,

pássaro, anjo. 

Crucificado já estou.












terça-feira, 13 de fevereiro de 2024



                  a última morada





Lá onde veredas preguiçosas descansam

e rios sem perspectivas desaguam

nuvens dançam

manhãs silenciosas pastam

cismo o sereno silêncio

que desejaria ter 

como última morada.


Lá onde não há roubos, crimes, carnavais

moças de vestidos coloridos passam

crianças jogam bola na praça

e janelas abertas

espiam o tempo que não passa

sonho ter

como última morada.


Lá onde as inquietudes repousam como flores no caixão 

e o que passou já não importa

e o esquecimento suavemente vem

e o pobre amor caminha sobre as águas

quisera ter

como última morada.


Lá onde minha mãe cozinhava, fiava, tecia, 

e minha avó capinava, sem nunca perder a

alegria,

e o meu pai possuía essa grande força que o fez eterno,

e um eco bondoso paira sobre todos aqueles

que habitaram minha gloriosa infância

em lembranças que nunca me abandonaram,

vislumbro o menino que ainda há em mim 

a me levar pela mão

a última morada.









  


 

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024



                    inquietudes





As inquietudes gestam desejos e preocupações.

Ou será o contrário ?

Vivo inquieto nem sei bem por que.

Mesmo quando tudo está calmo, invento torturas, 

rasgo a partitura que seresta os dias melodiosos.  

Do nada, o chão queima-me os pés e frita as certezas

emanadas dos antros da mente.

A inquietude circunda os interesses e lutas da vida 

que bufa e se barafusta sob bençãos e tristezas.

A ansiedade sodomiza medos e angústias.

Mas, a despeito de tudo, é sempre uma insuportável paz 

que obsidia a coragem perpétua. 

O sol quebrado oferece sua esperança corajosa.

Aceito de bom grado.



 

domingo, 11 de fevereiro de 2024



                  pequenas grandes coisas





Passará a dor

Passará o amor

Passará a juventude

Passará o tempo do plantio

Passará o tempo da colheita

Passarão os medos

Já não importarão os segredos

Tudo a terra há de comer.


Morremos em pequenos sorvos sem sentir

Passam os anos lhanos 

Assim como os insanos

Perdura, assim, como um livro a ser lido

Um mar a ser navegado

A vida que é ao mesmo tempo

Esperança e tédio

Doença e remédio.


Mas, ai ! Frente ao fluído inimigo

O inútil duelo jamais se resolve

Naquilo que não foi, nem pôde ser

Sofremos por coisas que existem

Sem existir

Luta o corpo contra o tempo

Pelejas que não pode vencer

Angústias na forja das emoções

Ódio, raiva, ressentimentos, coisas

Que envenenam a vida.


Quantos regalos nos são dados

E não damos valor

Todas as regalias e consentimentos

E não damos valor

Incapazes de ver nas coisas mais simples

Todo seu esplendor.

Ah, mas é apenas uma flor...

Uma manhã ensolarada e tranquila...

Um dia sem dor...

Pequenas grandes coisas que passam despercebidas

Desaprendidos de sentir o gosto da fruta

O cheiro da terra molhada de chuva

Das pequenas partilhas que permeiam

Um mundo amoroso e patético

Contra tudo o que maltrata e definha.


Da morte que nem morte é.















  


domingo, 4 de fevereiro de 2024



                          a espera pelo que não virá





Nada nos pertence, mas tudo queremos.

A espera pelo que não virá é infinita.

A espera do quê mesmo ?

Nem nós sabemos...


Há um momento em que as coisas todas

se resumem em morrer dignamente.

Afinal, até as coisas mais desejadas não duram.

E quando acabam, a sensação de desamparo é inevitável.

Pois o que resta de tudo é menos que pó.

Passamos a maior parte do tempo sonhando acordados

enquanto a vida 

mantém a promessa de felicidade, quebrando-a,

sucessivamente, 

até que tudo se transforme em despojos.







                              o único credo confiável




Abrahão foi um eleito de Deus.

Moisés foi um eleito de Deus.

Rezam as Escrituras que viveram

e morreram sob a proteção divina.

Os demais, sejamos francos, mais penaram

e sofreram do que outra coisa. 

Perseguidos, torturados, mortos, esquartejados,

comidos por leões, quase todos pagaram com a vida

por pregarem a paz e o amor ao próximo.


Ser cristão sempre foi sinônimo de sacrifício e privações.

E tudo pela simples promessa de obter algo tão subjetivo

como a remissão dos pecados e a vida eterna.

Nunca entendi a lógica de sacrificar o próprio filho

por nada, posto que a humanidade continua de mal a pior.

Sem dúvida, é uma bela narrativa.

Pena que sem nenhum sentido e efeito prático.

O homem é mau por natureza, e até os ensinamentos de Cristo

foram e continuam sendo deturpados.

Praticar o bem é o único credo confiável.  
















quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024



                                 o resto é resto





Insinua-se nas manhãs ensolaradas a inquieta alacridade

dos prazeres sem culpa.

A beleza passageira se renova, amorosa e transparente.

É como devia ser, nada de ódio nem insultos.

Olhares viciados em alucinações espiam as mesmices 

convencionais das praias sem nevascas.

O ar fresco rescende a descansos veludosos.

Luz e sombra não se confundem ao meio-dia.

Alegria, afetos, manhãs ensolaradas : sempre haverá

compensações para o desvario compulsório.

Quem canta seu subconsciente que aguente as consequências.

"O passado é lição para se meditar, e não para reproduzir", 

é o que nos convém.  

A turba não perdoa o que não entende.

Cresta-se a vida sem saudade de ter sido, o resto é resto. 

O eu que permanece comigo é o mesmo que dá testemunho

das manhãs adormecidas.

Sonhando com um mundo melhor em pleno dia. 







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