sexta-feira, 22 de julho de 2016


                                A TOCHA QUE ATOCHA
                                         


Independente dos resultados das competições propriamente ditas, um feito inédito o Brasil já garantiu nessas Olimpíadas : em relação a tocha olímpica, nunca a dita cuja viajou tanto e passou por tantas e variadas mãos, como por estas bandas.
E em particular na Baixada Santista, onde desfilou em carro aberto,escoltada por soldados e bombeiros, levada a pé por avenidas, subiu morro e plainou de para-pente; singrou o canal entre Santos e Guarujá num cortejo de remadores; passeou por praias, praças, palanques, passando nas mãos de atletas e para-atletas laureados, anônimos, aposentados, e principalmente, enxeridos de diversas áreas, com direito a lágrimas e acenos a reduzida porém compungida platéia que acompanhou a procissão.
Em suma, um dia inesquecível para um público específico e - verdade seja dita - extremamente reduzido, dado o elevado índice de reprovação que cerca a realização de um evento multi-bilionário, em meio a colossal crise que o país atravessa, e por isso mesmo, perfeitamente dispensável e até aborrecido para muita gente. Ou seja, para os que já não se deixam iludir e muito menos se empolgar com o tom diversionista e ufanista disseminado pelo jornalismo de saturação que caracteriza esse tipo de evento.
Nesse sentido, o resumo da ópera bufa que representou o desfile da tocha por nossa região não deixou de refletir com exatidão o contraste desse show iminentemente mediático com a dureza que enfrenta a parcela majoritária que trabalha, produz, e vai a luta, passando horas em ônibus, em filas, no trânsito, no implacável pega-pra-capar pela subsistência.
Transtornos agravados com a realização de pantominas como o desfile de um símbolo sob o qual pairam, cada vez mais, sérias dúvidas sobre a lisura e integridade que deveria inspirar. Com o duro golpe que representou a descoberta de um grandioso esquema de doping envolvendo toda a equipe de atletismo da Rússia, que custou sua vexatória exclusão dos jogos do Rio.
Quando a coisa tinge esse nível de manipulação e desvirtuamento dos valores olímpicos, tanta veneração e reverência por um símbolo ostensivamente explorado e alinhado com os interesses comerciais e mercantilistas em jogo, convenhamos, só sendo muito ingênuo ou otário.

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