domingo, 17 de junho de 2018

              
                        recomeço


No inefável torpor de meu sonho mais profundo,
volto a ser o que fui antes de ser o que sou.
O que quis ser e não pude,
em face dos mil disfarces que a vida nos obriga.
Movido por fantasias em que me enredei,
como um peixe descuidado, 
que morre sem saber porque.

Eu, que do teu coração por tanto tempo fui dono,
e fui por ele abruptamente enjeitado,
é com absoluta franqueza que te digo :
embora não acredites, dei-te o meu melhor.
Não o perfeito, o ideal, sequer o desejado.
Simplesmente o meu sofrido legado.
Fados, fardos, traumas que não consegui superar.
Te decepcionei, não te amei o suficiente,
não porque não quis,
mas do único jeito que sabia.
Do único jeito que aprendi.

Na hora incerta que antecede a aurora,
sonho meu sonho indecifrável,
no qual tudo é possível.
Sonho que não obstante ser apenas sonho,
que frente a dura realidade nada significa,
permite-me ao menos lamber as feridas.
Resignado como um anacoreta 
que na solidão ora
para que Deus o acuda, e os anjos digam amém.

Não temos muitas escolhas na vida.
A vida escolhe por nós.
Cada coisa a seu tempo,
enquanto o mundo gira e nos impele
a renunciar a si própria em prol de algo maior.
Porque a grandeza humana está em amar e perdoar
Estar disposto a recomeçar.
Pois só há um caminho na vida,
seguir em frente sem olhar para trás...








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