DESEJOS
A tarde flui lenta e chata.
A pasmaceira da vida, à sorrelfa e
à socapa.
Expectativas invariavelmente frustradas.
Acontecer algo de bom é um parto.
Os dias passam enviando recado aos inimigos.
A espera do que nos é devido é longa.
O que desejamos arruína os favos,
e a beleza,
a felicidade,
no fundo não passam de acidentes de percurso.
As crenças são pedras de amolar
facas cegas.
Libertar-se das iluminuras inúteis
é o primeiro passo
para fugir daquilo que,
sem sabê-lo,
nos tem sequestrado.
Símbolos, cosmogonias,
cada adereço do caleidoscópio,
Libertar-se das iluminuras inúteis
é o primeiro passo
para fugir daquilo que,
sem sabê-lo,
nos tem sequestrado.
Símbolos, cosmogonias,
cada adereço do caleidoscópio,
fiéis à obediência surda
prestes a se romper.
A tarde flui pachorrenta.
Agora que uma parede maior que
o silêncio
entre nós se interpôs,
resignado, despeço-me de todos os sonhos.
De um tempo de um eu plural e ausente.
De quem desejou tantas coisas
sem saber quanto custa
delas se libertar.
A tarde flui pachorrenta.
Agora que uma parede maior que
o silêncio
entre nós se interpôs,
resignado, despeço-me de todos os sonhos.
De um tempo de um eu plural e ausente.
De quem desejou tantas coisas
sem saber quanto custa
delas se libertar.
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