quarta-feira, 13 de maio de 2020

                           



                                          sinto, logo escrevo





Escrever é meu vício. É o meu jeito de lidar 
com as coisas
que não consigo resolver. Inútil e perfunctório 
esforço de compreender
o que tecem as moiras. Dar algum sentido 
a vida sem sentido.
Escrevo o que busco entender, ainda que 
margeando o desejo que cessa e se expande.
Perscrutando os sonhos desfeitos, lúcidos, severos,
que ainda reverberam.

Escrevo para encontrar outro modo de dizer 
aquilo que já disse, em vão, de outro jeito.
Há dias mais calmos em que penso não haver 
mais nada a dizer.
Que está tudo resolvido, perdido, à falta de argúcia 
resignado.
Mas o desassossego é como uma maldição perseverante,
que os mecanismos de defesa 
remetem aos confins da alma.
Como convém a meu melodrama chinfrim.

Gostaria de dizer que é para libertar a fera enjaulada,
exorcizar o que ainda incomoda, decifrar os enigmas
que não se decifram a si próprios.
Mas nem sei que ideia faço de mim mesmo.
Não obstante ser a minha maneira de dizer 
que a tristeza não me liquidou.
                   Que uma parte de mim ainda sofre,
                   mas a outra pede amor.






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