sexta-feira, 25 de setembro de 2020



                os justos


jORGE lUIS bORGES 

(OU UM POUCO DE POESIA DE VERDADE)


Um homem que cultiva seu jardim, como queria Voltaire.

O que agradece que na terra exista música. 

O que descobre com prazer uma etimologia. 

Dois empregados que em um café do Sur jogam um silencioso xadrez.

O ceramista que premedita uma cor e uma forma.

O tipógrafo que compõe  bem esta página, que talvez não lhe agrade. 

Uma mulher e um homem que leem os tercetos finais de certo canto.

O que afaga um animal adormecido.

O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.

O que agradece que na terra tenha existido Stevenson (ou Borges,diria eu).

O que prefere que os outros estejam certos. 

Essas pessoas, que se desconhecem, 

estão salvando o mundo. 



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