domingo, 5 de maio de 2024



                                    regresso





Saem os barcos para o mar, sabendo 

que podem não voltar.

Assim o tempo de Deus se põe-se de pé, 

veraz e inapelável.

Nele adentra o denso sol da tragédia, as vertigens luminosas

das devoções, o despertar entre os mortos. 

Que anoitecidas formas de ser conjuram o turvo

das águas dormidas ?

Alheio ao perigo, abrasam-se os anseios em meio

aos escombros cotidianos. 

Nada importa afora o clamor das privações.

Já não poder vencê-las sem provar o torpor exausto

dos desejos, eis o enfurecido repto.

Que olhos do mar espreitam os dibujos del puerto ?

Não mais que sempre se mostra o mundo partido, 

as âncoras da vida arrastando as sagas contratuais,

os monopólios da infância, 

as baldrocas oratórias. 

Saem os barcos para o mar sabendo

que podem não voltar.

Mas quase sempre voltam. 

Isente-se o coração quando o nítido rosto 

sem feições do amor 

regressa.

 



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

                                       não acredite                         quando digo                        que te amo Não acredite quand...