regresso
Saem os barcos para o mar, sabendo
que podem não voltar.
Assim o tempo de Deus se põe-se de pé,
veraz e inapelável.
Nele adentra o denso sol da tragédia, as vertigens luminosas
das devoções, o despertar entre os mortos.
Que anoitecidas formas de ser conjuram o turvo
das águas dormidas ?
Alheio ao perigo, abrasam-se os anseios em meio
aos escombros cotidianos.
Nada importa afora o clamor das privações.
Já não poder vencê-las sem provar o torpor exausto
dos desejos, eis o enfurecido repto.
Que olhos do mar espreitam os dibujos del puerto ?
Não mais que sempre se mostra o mundo partido,
as âncoras da vida arrastando as sagas contratuais,
os monopólios da infância,
as baldrocas oratórias.
Saem os barcos para o mar sabendo
que podem não voltar.
Mas quase sempre voltam.
Isente-se o coração quando o nítido rosto
sem feições do amor
regressa.
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