sábado, 7 de setembro de 2024




                            o galope cósmico




                                       1.

No horizonte de nuvens desoladas, onde os sussurros 

se misturam a bruma, um cavalo cósmico galopa, 

sem patas, sem rastro, sem rumo.

Seus olhos são janelas de auroras, refletindo 

o cosmos invertido, em que estrelas caem para cima, 

e luas nascem no céu retorcido.


O tempo assim se dobra em espirais, enquanto 

relógios derretem em longos suspiros, e o vento conta 

histórias de mundos insones e profundos.

Mãos gigantes brotam da terra, segurando sonhos 

como flores efêmeras, e os dedos se entrelaçam tecendo 

tramas etéreas.


Árvores com folhas de vidro povoam 

os jardins da memória, abrigando rituais de sacrifício 

e pássaros que voam com asas de papel.

Num deserto em que chove areia e dunas sussurram 

segredos antigos, um espelho enterrado reflete miragens 

e delírios amarrados com cordas celestiais.


O viajante de alma perdida se olha no espelho d`agua, 

e vê um rosto que não é seu, mas de um sonhador 

com olhos cansados.

No jardim dos sentidos confusos, flores desabrocham 

em silêncio e borboletas voam à esmo, para que nada 

perturbe a paz dos jazigos.

Lá, as lápides não tem memória, e o silêncio fala 

línguas esquecidas, para que o finito se torne infinito.




                                                     2.

No incomensurável salão do universo, estrelas 

e planetas dançam sem gravidade nem destino, girando 

em sentido inverso a fim de burlar o tempo.

Nebulosas se entrelaçam em nuvens de gás e abraços cósmicos, 

e cometas traçam rotas fugazes no vazio do sonho galáctico.

No centro de um labirinto espelhado, cada reflexo 

é uma porta para um outro mundo, onde o chão é o céu, 

e o céu é o mar, 

enquanto a realidade arcana desmorona a cada segundo.


Passos ecoam em corredores infinitos, sussurrando 

segredos em dialetos secretos, enquanto o viajante 

se perde da realidade sem nexo.

Na praia onde o tempo é melodia e as ondas tocam 

acordes perenes, as marés compõem sinfonias que ecoam 

nas profundezas eternas.

Nas areias do tempo, ondas entoam canções cifradas, 

em mensagens que só os cardumes entendem.


Nas cidades de aço e concreto, em que ruas e praças 

são palcos de atores itinerantes, os dias passam 

impregnados de súplicas e dramas sem fim.


Pilhas de mortos nos becos e calçadas distraem 

os transeuntes, enquanto cabeças decepadas não param de falar.


              No teatro da mente encena-se de tudo, somos todos 

              marionetes sem rosto nem identidade, puxados 

              por fios invisíveis que pregustam o inexistente. 


Cortinas se abrem e se fecham em sessão permanente, para 

que o grande show itinerante da vida possa continuar.

Atores e tramas se sucedem ad infinitum, e o final nunca é bonito. 


Sonhos dobrados como origamis voam leves 

nas asas do subconsciente, permeados de desejos ocultos, 

que pairam suaves na mente dormente.

Cada dobra é um segredo bem guardado, cada linha 

um desejo reprimido, incrustrado na imaginação 

como diamante bruto.


O limiar do impossível desperta o ser profundo, onde a lógica 

desaba e o absurdo floresce, para que a mente 

em liberdade plena invente mundos que a razão desconhece.

Mundos que nascem de ideias abstratas, desejos que fluem 

em pensamentos proibidos, em cenários pintados 

com tintas da imaginação, eis o suprassumo da inspiração.


                 Sou um ser de luz e sombras, que vaga na fronteira   

                 entre o real e o imaginário, fazendo da poesia 

                 um portal de sonhos e fantasias.


Minha mente inquieta abre portas sutis, e com a razão 

e o coração em consonância, busco o impossível, o improvável, 

o incerto. 


                                            3.

 



No jardim dos amores perdidos, rosas de cristal florescem, 

cada pétala guarda o perfume das paixões que nunca envelhecem.

Borboletas de luz dançam no ar, trazendo mensagens 

de amores antigos, enquanto o vento murmura 

canções de saudade e corações partidos.


No peito dos amante bate um coração analógico, cujos 

ponteiros marcam horas de louca paixão e desejos intensos, 

e cada beijo, cada abraço, reverberam fora do tempo.


No céu noturno de amores partilhados, as estrelas 

agasalham desejos secretos, enquanto a lua, testemunha 

de tantas juras e promessas, sorri em seu brilho suave e eterno.


Sobre um rio de memórias fluentes, uma ponte de suspiros eternos 

se ergue, onde amantes cruzam em passos leves, 

deixando para trás desejos indeléveis.

Cada pedra da ponte é um conto de amor que resiste 

ao tempo, enquanto o rio segue seu curso sinuoso 

e indiferente. Como a vida.


                  Na biblioteca da vida, livros contam 

                  histórias de mundos distintos e distantes, 

                  repletos de enigmas e intrigas, 

                  em narrativas que nunca acabam.


No mercado das sensações vende-se emoções em frascos, 

perfumes raros de memórias antigas, saudades embrulhadas 

ao gosto do freguês.

Vendedores de ilusões oferecem poções de risos, 

alegrias, elixires de sonhos e outras magias. E tudo mais 

que não se pode comprar.


Sonhei que me vi no fundo do mar, onde um polvo tocava 

um piano com teclas de pérola, enquanto

cardumes de peixes  bailavam em círculo, ao som 

das notas líquidas e vibrantes, quando, de repente, 

as águas se turvaram, tudo escureceu, e eu acordei. Todo molhado.


No parque de diversões cósmico, um carrossel percorre as 

estrelas, rodas gigantes giram no espaço, montanhas russas

 galgam constelações etéreas.

Crianças de planetas distantes brincam no grande parque

galáctico, onde a vida não passa e a diversão nunca acaba.



                                                        


 














Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

                                   velhice Envelhecer é triste, patético.  E todo esforço para reverter o processo  torna tudo  ainda mais d...