sábado, 4 de janeiro de 2025


                        o rancor do mundo





Não sei explicar as coisas que não sinto.

Indigna é a fé que degenera nos lares.

O corredor que deixa entrever os pátios contem 

os ossos do amanhã.

Algo costuma acontecer quando estamos 

untados de mortes.

Havia um confessionário anacrônico que já não 

me causa dado.

Sinto desprezo pelas pessoas e me desprezo por isso.

A única coisa sem mistérios é a felicidade, porque se justifica

por si só.

A culpa dura enquanto dura o arrependimento.

Dias amarrados à divagações não toleram fronteiras.

Há fatos que não se sujeitam a mediações ou intermediações,

pois neles se fecundam.

O rancor do mundo afia a garra dos abutres.

A história que se desenrola nas sombras acaba nas sombras.

A falta de imaginação livra-nos de dilemas, mas torna

a vida insossa.

O banal retém a verdade mais íntima.

Onde os fragores terrenos empreendem novas jornadas,

o que é finito finda mas não morre.








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