quarta-feira, 5 de abril de 2017

CAVALO DE TROIA

 



Nenhuma muralha é intransponível.
Nenhuma fortaleza, inexpugnável.
Ninguém é de ferro. Nem de vidro. 
À toda prova. 
Nenhum dia é igual ao outro.
Mesmo fazendo sempre as mesmas coisas.
Alguém está sempre partindo.
Alguma coisa está sempre se partindo.
Cuidado com os estilhaços...
Cuidado onde pisa. Em quem pisa.
Ninguém é uma ilha. Nem uma fortaleza.
Quando muito, uma trincheira. 
Um alvo fácil. Um inocente útil. Descartável.
Ninguém é insubstituível. 
Sequer inesquecível.
Pois a fila anda, como se sabe.
Nada resiste ao tempo. Nem os sentimentos,
de primeira ou segunda mão.
Tudo morre e se renova. E vice-versa.
Ninguém é uma rocha. 
Nada é para sempre.
Toda muralha tem seu dia de cavalo de Troia.  






terça-feira, 4 de abril de 2017




                    O RABO DO CACHORRO


O dinheiro é o eixo do mundo e o lucro, o seu patrão.
O que importa se o teu amor te dispensou ?
Se a bolsa subiu, o dólar disparou,
compre um novo amor.

Riqueza espanta a tristeza, atrai a beleza.
Quem tem grana, não sente solidão.
Convivas estarão sempre de prontidão.
Séquito de puxa-sacos te ladearão.
Abrirão portas à sua passagem,
rirão de suas piadas (mesmo as sem graça).
Basta que continues mão aberta, e tua popularidade
estará sempre em alta.
Se feio ou chato, ninguém se importará,
enquanto mantiveres o status e o belo carrão.
Grosso ou cafona ? Pois sim, trata-se de um excêntrico, 
dirão, 
e não faltará quem te ache charmoso e original.
Tédio não existirá em teu dicionário.
Se te faltam talentos e encantos pessoais, não se amofine. 
pois até isso o dinheiro compra. 
Tudo tem seu preço.
O cão, o canil, e o abanar do rabo (anônimo).




set/1996

  


domingo, 2 de abril de 2017



                  O BALACOBACO DO DEUS EX MACHINA 





Afinal, porque escrevo ? Para quê escrevo ? E sobretudo, para quem escrevo, se ao contrário das cartas de antigamente - será que alguém ainda as escreve ? -, nunca se sabe quem são os destinatários no mundo cibernético

. Diferentemente de escrever em publicações convencionais, que tem um público mais ou menos definido, ainda mais quando setorizado, postagens num ambiente infinitamente mais abrangentes e persecutórias como a Internet é o mesmo que andar às cegas.  
Com a vertiginosa expansão dos meios de comunicação, nas asas da blogosfera, inaugurou-se uma nova era na civilização - rica e ao mesmo tempo altamente deletéria -, que excede as próprias profecias dos gurus futuristas, Marshall Mc Luhan e Aldous Huxley.  Ao menos no que se refere à interação e integração global on line, que não só inverteu como subverteu a pirâmide social, ao dar voz - e poder - aos marginalizados e excluídos da sociedade. 

Vocalização anárquica e dispersa, é verdade, mas de qualquer forma, altissonante e contundente o suficiente para tomar o protagonismo da imprensa tradicional como instrumento de persuasão e pressão. Um protagonismo exercido principalmente pelas redes sociais, onde a repercussão instantânea e viral de tudo que é postado representa hoje em dia a verdadeira caixa de ressonância da sociedade. 
Fato que enseja o surgimento de novos paradigmas de comunicação, baseados na hipermídia, cujos fundamentos, elencados na década de 60 pelo filósofo e estudioso canadense Ted Nelson, já previam a conjunção de várias mídias num mundo dominado pelos computadores e por uma parafernália eletrônica cada vez mais sofisticada e massiva. 
Um balacobaco de tal monta, em suma, que me permite estar aqui teclando essas mal-traçadas em escala mundial, é mole ? Se alguém vai ler, é outra questão. Razão pela qual, pensando bem, pouco importa saber porque, para quê e para quem escrevo. Escrevo porque quero, porque gosto e se alguém se der ao trabalho de ler e for de alguma serventia, beleza. Do contrário, vida que segue, cada um por si e o deus ex machina da Internet por todos. 


  




sábado, 1 de abril de 2017


                            SOSSEGA, CORAÇÃO


Meu coração às vezes bate tão forte
que até parece que vai sair pela boca.
Bate tão depressa que até parece estar
apostando corrida contra o tempo.

Calma aí, coraçãozinho valente !
Se aquiete em seu canto de sempre.
Não se precipite, não se apresse.
Não vá me aplicar nenhuma peça.

Ainda que não lhe faltem razões,
tamanho os sobressaltos e atribulações
que vivo arranjando, 
não me deixa na mão.

Sossegue por mais algum tempo.
Aguente o tranco, segure o rojão.
Porque depois terá - teremos ? -
toda a eternidade para descansar.

Março de 2017



 

quarta-feira, 29 de março de 2017




                           

                             ESQUECER DE SOFRER

 
Quem dera arrancar a amargura do peito e aquietar 
o espírito.
Exorcizar os demônios que me atormentam, para ter um 
pouco de paz.

Quem dera me livrar da tristeza que me assalta, trazendo 
lembranças de coisas mal-resolvidas e mágoas 
congeladas ao longo do tempo.

Quem dera reparar laços que julgava inquebrantáveis, 
que se  esgarçaram inexoravelmente.
Laços de amizade e de amor, que acreditava eternos.

Quem dera poder voltar no tempo, para repensar e refazer 
o caminho, sem tantos tropeços.

Quem dera esquecer de sofrer.

 

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