terça-feira, 27 de fevereiro de 2018


          

                    
OREMOS !






A vida exige que sejamos fortes
corajosos
Mas às vezes isso não basta
É preciso ser de ferro
Para aguentar o tranco
Suportar o repuxo
Segurar a onda

Como de super-heróis nada temos
A não ser a vontade e a determinação
Há que fazer das tripas coração
E seguir em frente
Pois como diz o outro
O que não nos mata, nos fortalece !

(Afora isso, só para garantir,
 reze dez Ave-marias e dez Pai-Nosso,
segura na mão de Deus, e vai !) 



domingo, 25 de fevereiro de 2018




       CAINDO NA REAL

                           

Quando te perguntarem por mim, me faça 
um último favor :
diga o que realmente aconteceu.
Ou diga que morri.
Assuma, deixe de subterfúgios
desconversar pra quê ?
Abra o jogo, conte para os outros
o que esconde de mim.
Fala que sou uma fraude

ou qualquer coisa do gênero.
Bote para fora toda bronca e mágoa.
Talvez te faça bem desabafar.
Se é que isso vá fazer alguma diferença.
Se é que essa situação te incomoda,
como incomoda a mim.
Ou deixa estar.
Um dia a ficha cai.
A minha ou a sua.
Doa a quem doer.

                                 
Já não espero nada de ninguém.
Afeto, amor, tudo acaba.
O tempo é implacável.
Só o que nos resta é manter as aparências.
Cumprir com as obrigações.
Fazer o dever de casa.
Pagar as contas, andar na linha,
dentro das convenções de praxe.
Que consistem num monte de obrigações,
sem qualquer reconhecimento.
Não espere que te estendam a mão.
Não espere compreensão, boa vontade.
Todo mundo só pensa no próprio umbigo.
Você só terá valor e aceitação
na medida que for útil, que corresponda 
as expectativas alheias.
Por sinal, sempre elevadas.

                                 
Não se iluda, não se engane com as aparências,
seu conceito está diretamente
vinculado ao que pode dar e oferecer.
Caia na real, sem drama.
Não alimente expectativas.
Não guarde ressentimentos, 
e deixe o tempo fazer o resto.
                                




  

sábado, 24 de fevereiro de 2018

    


         O REQUIEM DO APOCALIPSE



É espessa e indistinta a treva 
que de névoa e terror impregna a terra.
Não há trégua nem piedade 
no mundo dos vivos.
Não há mãos dadas na humanidade.
De holocaustos e mortalhas é o seu legado
desde os primórdios.
Em nome de Deus, Alá, ou por esporte,
extermina-se, detonam-se bombas, 
os próprios corpos.

O sangue de inocentes cobre o céu de púrpura,
em meio aos escombros de cidades sírias dizimadas.
À matança indiscriminada que se alastra
nos grandes centros urbanos.
Nos noticiários em tempo real, 
o obituário diário do assassinato de civis indefesos,
nos confins da África, no oriente médio,
cuja vida miserável por si só 
já é um martírio interminável.

Oh, mundo belo e insano, 
que embala sono letárgico dos justos 
ao som do recorrente réquiem de bombas, 
rajadas e tiroteios que não conhece limites e fronteiras.
Sinfonia macabra regida por psicopatas frios e cínicos.
Malucos que proliferam em meio a distopia reinante.
Líderes e chefes de estado
transvestidos de cavalheiros do apocalipse nuclear. 
Discípulos do próprio satã, que se deleitam em promover 
a barbárie nossa de cada dia,
à revelia dos anjos, santos, profetas, 
entidades de todas as crença.
Quiçá, do próprio Cristo redivivo

Divindades entretidas com sei lá o quê,  
onde se escondem ? 
Onde o divino ? 
Onde o anelo de ver desvanecida a treva espessa,
a rotina macabra de defuntas crianças,
dos milhões de trucidados 
nas guerras de extermínio ?

Surdos, cansados, 
provavelmente enfastiados de ouvir as mesmas preces
e promessas, 
os benfeitores da humanidade compactuam
com as mazelas do mundo
Nada diferente do que sempre foi,
sob os auspícios da raça humana.
Excrescência de uma Criação
sabidamente sofisticada,
  O HORROR DOS HORRORES
notoriamente fraticida.







  




sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018




           resignação





A (tua) falta de interesse é notória.
A (minha) falta de vontade, inerente.
A (nossa) falta de atenção, conspícua.

A falta de ficar junto é sintomática.
A falta de aconchego, automática.
A falta de tesão, ah, que falta de sentir falta...

À falta de tudo, capitulamos.
De enganos em enganos
Vamos nos enganando.
Levando a vida,
Deixando a vida nos levar.
Enganando e sendo enganados.
Acomodados e estagnados.
Resignados como gado 
À caminho do abatedouro.





segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018





          O INFERNO É AQUI 
(em quatro atos)


                  1.

Minha noite é insone
Meu dia atribulado
À noite é meu nêmesis 
De dia apenas sigo ordens 
Simples peça da engrenagem
Programado para obedecer
E toca o cliente atender
Que a fila precisa andar
Os rostos se sucedem, contas, carnês
passam pelo meu caixa 
Tudo passa pelo banco
Todo o dinheiro do país, a merreca
dos aposentados
Vai aí um crédito consignado ?

                    2.

Sou lojista, motorista, garçom, pedreiro
Ou qualquer outra coisa 
Mero serviçal que não pensa 
Apenas faço o que me mandam 
De dia me viro nos trinta
à noite rolo na cama 
Isso é vida ? Trabalhar como um condenado
Engolir sapo, humilhação 
Por uma miséria de ordenado ?
Os dias passam e nada acontece
Mas podia ser pior
Quem mandou não estudar ?
                       
                         3.

Estudar, bem que eu quis
Mas faltou escola, faltou dinheiro
Arrimo de família, cedo fui pra rua
Para arrumar qualquer trocado
Como flanelinha, pedinte
trombadinha...
Que vida é essa, meu Deus ?
Na maloca em que moro, com minha mãe
alcoólatra e viciada
Meu pai nem sei quem é 
A noite chega e eu de barriga vazia
Meus irmãozinhos choramingando de fome
Pela frente, mais uma madrugada insone
O inferno não poderia ser pior...
             
                         4.

 Queria ser jogador de futebol
Até tentei, mas na peneira não passei
Fiz letra de funk, mas não rolou
Sem emprego, sem futuro
Só traficando me dei bem
Por quanto tempo, não sei
Provavelmente, muito pouco
Provavelmente, sem final feliz
Mas quem, em sã consciência
Pode me condenar ?




sábado, 17 de fevereiro de 2018


                  ESFINGE  
                   


A falta de viver paira-me como um amontoado
de livros não lidos.
A falta de interesses distrai-me o caleidoscópio 
de sensações não vividas.
A falta de vontade traduz o estio que me habita,
como se a alma dormisse.
A falta de querer, imerso em mim próprio,
basto-me. 

A falta de saber confunde-me como um espelho quebrado.
A falta de luta, conquistas, feitos épicos, condena-me a mediocridade.
A falta de viver entorpece-me a alma. 
É como se me faltasse a indignação dos fortes,
A temperança dos nobres.
A resiliência dos grandes.


Tornei-me uma esfinge perante as coisas 
que me faltam e oprimem. 
A revel das interações confusas, colho fracassos 
feitos de cansaços e falsas renúncias.
Nos quais me protejo do peso de coexistir 
com os outros.







                                                                          REDUCTIO AD ABSURDUM




No jogo da vida, ganhar ou perder é o de menos.
Faz parte, acontece.
Perde-se aqui, ganha-se acolá, e vice-versa.
Tudo serve de aprendizagem.
Que por maior que seja, sempre fica devendo.
Nunca é o suficiente.
Na acatalepsia que vivemos,
na ficção que criamos,
a única atitude digna é a da renúncia

Renunciar por altruísmo.
Renunciar por amor.
Abdicar por causa justa.
Reconhecer as próprias limitações.
Espectador e antípoda de si mesmo.
Reductio ad absurdum na catarse da vida




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