segunda-feira, 2 de abril de 2018


                          A SENHA


O mundo vai acabar amanhã
O mundo vai acabar na semana que vem
Ou no ano que vem
Quem sabe um dia os profetas do fim do mundo acertem
Ou não
Vai ver o mundo já acabou 
E ninguém prestou atenção
Pois de certa forma
O mundo acaba todo o dia
Acaba um pouco ou de cambulhada
Acaba no varejo ou no atacado
Acaba para quem morre
Para quem sofre perdas irreparáveis
Para quem perde tudo, adoece 
E morre um pouco a cada dia.
Pensando bem
O mundo acabou antes mesmo de existir
O mundo perfeito que precedeu o pecado original
Crescei e multiplicai-vos 
Foi a senha que ferrou tudo



   


quinta-feira, 22 de março de 2018



                          HAJA CORAÇÃO !   




Amar, malamar, desamar.
Quem já não passou por isso ?
Quem já não se empolgou, se jogou de cabeça,
caiu de quatro,
para depois quebrar a cara,
sem direito a arrependimento ?
Quem já não fez planos, sentiu-se nas nuvens,
fez e ouviu juras de amor eterno,
para depois de passado o torpor do encantamento,
a chama da paixão,
ver tudo se consumir no fogo lento das desavenças.
Pelo inevitável tédio das relações.

E no entanto, repetimos a dose de bom grado.
Na vã esperança de que as coisas possam
ser diferentes.
Do alto de um aprendizado invariavelmente insuficiente
para conciliar o inconciliável,
remediar o irremediável.

Amar, malamar, desamar.
É o enredo de sempre.
Do frisson ao déjà vu, nada resiste ao tempo.
Por mais que se faça,
por menos que se queira,
os sentimentos se deterioram a medida 
que o conhecimento mútuo de aprofunda.
E em se aprofundando, escancarando as diferenças.

Amantes, filhos, amigos, não há elo 
que não se corrói,
não se esfacele inexoravelmente conforme 
as relações envelhecem, conforme envelhecemos.
Pois assim é a vida. 
Assim são as coisas.
Tudo se renova, se transforma,
e por fim, definha.
Haja coração !



                 ARRECUAR OS ARFES



Faz frio lá fora
Faz ainda mais frio aqui dentro
Sem o seu abraço. Sem o seu calor

Mesmo de corpo presente
Tua ausência me machuca
Nem parece a mesma pessoa
Formal, distante
Mal me dirige a palavra
Prefere o facebook
Passa horas pendurada no indefectível
celular falando com a mãe
ou sabe lá quem.

Tudo bem que as coisas mudam
Que o desgaste das relações é inevitável
Assumo minha parcela de culpa nisso
Sei que também não colaboro
Ao contrário
Tinhoso, fico na minha
E dou o troco na mesma moeda

Rediscutir a relação talvez fosse o caso
"Arrecuar os arfes para evitar a catastre", como diria
o filósofo ludopédico Neném Prancha
Isto se o jogo já não estiver perdido...


(Nov.2015)

sábado, 17 de março de 2018



         RECIPROCIDADE


Ok, vocês venceram. 
Também quero o direito de ser sacana, tratante, 
trapaceiro.
Me unir a pujante classe dos farsantes e hipócritas
que domina o planeta.
Estou farto de labutar sem usufruir, 
sem reconhecimento, dar sem receber.
De remar contra a maré.

Ninguém vê o meu lado.
Que também sou de carne e osso.
Que tenho sentimentos, preocupações.
Carregando e tocando o piano.
Sem ninguém para partilhar, dividir.
Só sabem me criticar, censurar, quando eventualmente 
piso na bola. 

Ah, que vontade de jogar tudo para o alto,
de sumir do mapa. 
Ter o direito de cometer vilanias, infâmias. 
O prazer de retaliar, de revidar,
comer o prato frio da vingança.

Estou de saco cheio de ser bonzinho,
da hipocrisia do politicamente correto.
Estou cansado de ser responsável, crédulo,
consequentemente, de bancar o otário.
Cansei de ser solidário, de fazer o certo, 
e a recíproca não ser verdadeira...




sexta-feira, 16 de março de 2018


 
  
Não se submeter as trapaças da vida.
Não se subordinar a crenças, sentimentos, 
prazeres.
No fundo, 
nada mais que prisões e algemas 
que nos encarceram 
e tolhem - eis o conhecimento
que os deuses
nos sonegam.







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