sexta-feira, 9 de novembro de 2018

                

                    quem ama,  se engana




   
Não se amofine, não se apresse,
desesperar não carece.
O tempo se encarrega de tudo. 
De desvendar as coisas e trazer respostas
Curar a feridas, apascentar a alma. 
Dosar tudo de bom ou ruim 
que acontece em nossas vidas. 

Há sempre surpresas, revelações,
quando menos se espera.
Situações, intrigas, questões mal-resolvidas vem à baila.
A verdade tarda mas não falha.
Um dia a máscara cai e as pessoas se revelam. 
Revelam aquilo que está na nossa cara e não víamos.
Ou quando o acaso mexe os pauzinhos.
Ninguém engana os outros o tempo todo.
Há um prazo para tudo. 
Pode ser 18 anos ou alguns meses.
Uma vida ou breve momentos.
Quem diz que ama é a mesma pessoa
que mente e te engana.
Para manter as aparências, quando é conveniente.
Que te sacaneia, quando deixa de gostar.
Nem parece a mesma pessoa.
De repente mostra a verdadeira face.
Não há como saber.
Quem ama, se engana.
E como !

















quinta-feira, 8 de novembro de 2018



                     SEMANCOL

...quando se chega ao extremo de pedir perdão sem ter culpa, de pedir desculpas por algo que não fez, e ainda assim não ser perdoado nem desculpado, é hora de se mancar e tirar o time de campo, pois é óbvio que estão cagando e andando para você.
















Da série, minha vida virou uma piada

Tem um catador de papelão, um desses tantos carrinheiros que faz dessa insalubre atividade um meio de vida, que há mais de 10 anos reside debaixo de uma das marquises de minha firma, aqui na Ponta da Praia. Como a loja é de esquina, aproveitou uma das extremidades onde quase não passa ninguém, e instalou um velho sofá, onde passa as noites, coberto por uma espécie de lona de plástico. A prefeitura já tentou removê-lo várias vezes, chegaram a levar um outro sofá e apetrechos que ali guardava, mas ele bravamente resiste, dizendo gostar dali e que ali pretende ficar, enquanto eu permitir.
Ora, por mim tudo bem, ele jamais me incomodou, não é de fazer sujeira, e não deixa de ser uma espécie de vigia atento a tudo que rola num pedaço sabidamente da pesada. Sem falar no inacreditável bom astral do sujeito, que tem sempre algum comentário ou algo engraçado na ponta da língua. 
Como outro dia, quando se aproximou tão logo desci do carro, e logo vi que queria puxar conversa, ou talvez pedir um trocado, como às vezes faz. Mas não. 
"Tudo bem com o senhor, patrão ? 
"Está, sim, Messias (o nome dele), e com você ? "
"Tudo sob controle, como sempre. O senhor sabe que comigo não tem tempo ruim", aduziu, emendando :
"Desculpe falar, mas tenho notado de uns tempos pra cá que o senhor está diferente. A cara amarrada, parece triste... Desculpe me meter, posso estar falando bobagem, mas não deixa a peteca cair, não. O senhor é do bem, logo as coisas melhoram..."
Agradeci, meio sem jeito, e não pude deixar de me admirar diante do exemplo de galhardia e sabedoria inata daquele zé ninguém, provavelmente mais feliz do que eu, com minha vidinha de burguês, mas cheio de merda na cabeça. 




da série, minha vida virou uma piada

Passei toda minha vida no convívio familiar, até os 27 anos vivendo com meus pais, depois em dois casamentos desfeitos - o segundo recentemente terminado. Com meus pais e minha irmã mais nova falecidos, dois filhos adultos e meu caçula vivendo com a mãe, eis que pela primeira vez na vida, me vejo só. Velho e absolutamente só. 
A vida é injusta e cruel. Lembrei de um velho amigo, Maneco Pé-Leve, que também se viu assim, sem família, e cujo maior medo, confessou-me certa vez, aos prantos, em meio a uma bebedeira, era ninguém reclamar seu corpo e ser enterrado como indigente. "Promete pra mim, cara, não deixa isso acontecer. Me promete, cara, me promete ...",  repetia, soluçando como uma criança. Prometi, é claro, até mesmo para dar um fim àquele repentino melodrama em pleno bar lotado. 
Pouco tempo depois ele voltou para Itajaí, sua cidade de origem, e nunca mais o vi. Espero que ainda esteja vivo, mas se já tiver partido desta para melhor, que alguma alma caridosa tenha cumprido por mim a tal promessa.
Quanto a mim, pouco se me dá se acabar enterrado como indigente. Morrer não me assusta, e o que vier à acontecer com minha carcaça, pouco importa.  Aliás, simpatizo muito com a iniciativa da minha mãe, que após um final de vida sofrido e difícil para todos, dispensou o próprio velório. ''Não quero ninguém chorando em cima do meu caixão", sentenciou.
Minha velha não era fácil. Oxalá esteja em paz.
      

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