domingo, 6 de janeiro de 2019


                o exílio e o asilo




ah, que prazer
deitar na relva verdinha
contemplar a imensidão do céu azul
o formato singular das nuvens
figuras, presságios
aqui um anjo
ali um tridente
acolá uma mão espalmada
signos tão familiares a minha vida
em que tudo parece fazer sentido
ou sentido algum
na medida que cabe a cada um
e a mais ninguém
dar-lhes sentido.

sinto a mão do tempo
esmagar o summus inorgânico e fétido
que restou de mim
que para nada mais serve
a ninguém serve
a não ser, cumprir as obrigações de praxe.

que ninguém se iluda,
tudo se resume ao dinheiro.
virtudes, princípios, convicções,
tudo tem seu preço.
tudo à venda.
na fartura, és um príncipe, a melhor
das criaturas;
na penúria, na velhice, um estorvo
que ninguém respeita.
que entre o exílio e o asilo transita.







terça-feira, 1 de janeiro de 2019








resoluções

senhor, 
permita que eu deixe definitivamente
para trás
tudo aquilo que me tolhe e oprime.
que eu possa ser
melhor do que jamais fui.
traçar novos rumos,
soltar as amarras.
buscar as coisas sempre adiadas.

senhor, me dê forças e saúde 
para superar os obstáculos.
que bem sei, serão muitos,
como sempre foram.
que eu tenha sabedoria para escolher
o melhor caminho.
evitar atritos à toa.
ser digno e fazer jus a uma vida mais plena.

que eu consiga, enfim,
ser aquele que sempre quis ser
mas nunca consegui.
aquele que perdeu o rumo
mas se reencontrou.






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RÉVEILLON EM PIRATUBA/SC












quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

                           

                       BR 116


Na rodovia tantas vezes percorrida,
expectativas, ilusões, planos na bagagem
nunca consumados.
Perdidos nas retas e curvas
da vida pensada à vida vivida.

Nas idas e vindas entre Curitiba e Santos
escrevi minha história.
Do jovem cheio de sonhos ao homem desencantado
que me tornei.
Vi tudo escoar por entre os dedos.
A família que já não tenho mais.
As aptidões abandonadas.
O trabalho negligenciado.

A rodovia que a tudo me levou
percorro hoje sem saber o que me espera.
O que esperar.
Já não tenho quem me espere.
Já não tenho porque lutar.
Minha família curitibana se foi.
Minha família santista se dispersou.
Piso no acelerador com ímpetos de voltar
no tempo,
mas com radares por todos os lados,
tudo que consigo é ser multado.

Positivamente, 
a BR 116 resume a minha vida.

  






quarta-feira, 26 de dezembro de 2018


            Ícaro  desastrado


Não sei o que a vida ainda me reserva,
mas sei o que dela não quero.
Não criar falsas ilusões,
construir castelos de areia.
Não me enganar mais com as pessoas.

Quero - e preciso - ter os pés no chão.
Sonhar, só com coisas tangíveis.
Nada de voar às cegas,
feito um Ícaro desastrado.
Não quero nada além do que a vida
possa me dar.
Do que esteja ao meu alcance.
Compatível com o que eu posso e sou.
Com as limitações que a velhice adensa. 

Sobretudo, não esperar nada de ninguém.
Simplesmente, deixar acontecer.
Deixar o coração se aquietar.
Conformar-se com o que se apresenta. 
Deixar tudo em ordem, 
a moeda à mão 
para quando o barqueiro chegar...




























Coragem, irmão, não esmoreça.
De lutar não desista,
nem perca a fé e a esperança.
Dias piores virão...




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