domingo, 18 de agosto de 2019



                         fluido e frívolo






Chega a ser assustador constatar a superficialidade e efemeridade das coisas nesses tempos de modernidade líquida, como bem definiu o filósofo polonês Zigmunt Bauman. Uma época de relações rápidas e fluidas, em que tudo fica para trás e mal dá tempo de assimilar o que se apresenta, acentuando a frivolidade comportamental que afeta os próprios sentimentos mais nobres, como o amor, a amizade, os vínculos familiares.

Como se diz, é impressionante como a fila anda, e cada vez mais gente prescinde do convívio e dos relacionamentos tradicionais, não exatamente por desinteresse ou egoísmo, mas em função dos novos padrões inerentes a esse processo. Mal dá tempo para curtir o momento, tal a alternância e o ritmo acelerado das coisas, daí a impressão de estar tudo passando rápido demais.

Ainda estou aprendendo a lidar com essa fluidez, me adaptar as variações que desafiam meus antigos valores, e sobretudo, essa superficialidade que beira o descaso, o desprezo, a renúncia a compromissos e comprometimentos. Não poder confiar é para mim um preço muito alto à pagar, sejam quais forem as vantagens e facilidades desses tempos em que a transitoriedade das coisas só serve para agravar ainda mais o vazio existencial.

terça-feira, 13 de agosto de 2019






Tudo tem seu preço.
Para tudo há um preço.
Mesmo para o imprestável.
Que são justamente os mais caros.
Passos em falso, escolhas erradas...
Caros, caríssimos. 
Às vezes, o preço de uma vida.


                   

                       fim dos tempos








É fácil constatar. Há coisas extraordinárias acontecendo.
No bom e no mau sentido.Transformações radicais 
e valetudinárias. 
Riqueza e miséria extrema antagonizando.
O homem brincando de Deus.
Deus se fingindo de morto. 
Dando corda.
Franqueando o conhecimento.
Dando corda ao relógio do Apocalipse.

Sinais não faltam. Avisos não faltam. 
Os parvos ignoram. 
Desprezam as evidências, 
ignoram os próprios protocolos de controle. 
Na estúpida crença de que a natureza se regenera. 
Os interesses e a ganância imperam, 
sob os auspícios de governantes obtusos. 

Coisas extraordinárias e absurdas, coabitando. 
Luxo e riqueza como nunca se viu.
Pobreza e desigualdade como nunca se viu.
Livre arbítrio e liberdade como nunca se viu.
Em meio a ignorância e barbárie de sempre.

Mas eis que o homem quer ir à Marte.
Explorar, morar lá. 
Se dispõe a gastar bilhões, 
para ir onde só tem areia, pedra.
Sequer oxigênio há, e o calor, insuportável.
Ao invés de cuidar da Terra.
Talvez porque um dia Marte já foi igual a Terra.
Com água, vida, habitada.
Querem descobrir o que aconteceu,
quando a resposta está aqui mesmo.
O homem brinca de Deus, achando que tem tudo
sob controle.
Deus se faz de morto, 
enquanto o diabo toma conta.

Não é difícil antever o cenário que se avizinha.
Matéria para a crônica do fim dos tempos.  














  


  









domingo, 11 de agosto de 2019




da série, minha vida virou uma piada.


Dia dos pais, vou buscar meu filho para passar o dia comigo.
O presente, me surpreende : uma garrafa de Desejo, um de meus vinhos preferidos.
"A mãe disse que é seu vinho predileto", diz ele, enquanto eu viajo, poxa, a primeira vez em um ano e meio que ela se mostra amistosa.
Bom sinal, penso, e de tão alegre, resolvo abrir a garrafa hoje mesmo, para acompanhar o caprichado fettucine ao molho de camarão. 
Mas ao retirar o lacre, noto que a rolha está borrada de vinho, o que costuma acontecer quando a garrafa fica muito tempo na horizontal, e de fato, ela esfarela toda ao giro do saca-rolha. Comento com ele : filho, se o vinho azedou, vai ter que levar a garrafa de volta para ela trocar onde comprou.
"Ih, pai, não vai dar".
"Como assim, não vai dar, esse vinho é caro, não dá para perder assim de bobeira".
"Sabe o que é, pai. Você não deve lembrar, mas esse vinho é do seu tempo, que você esqueceu de levar quando saiu de casa".
"Quer dizer que você me presenteou com um vinho que já era meu?'
"É, pai, foi a mãe que mandou."
Menos mal que o vinho não azedou. Nem estava envenenado ...











  





                              FERREIRO




O amanhecer é sempre mais penoso.
Acordar no quarto vazio,
no gélido langor da chama extinta.
Lidar com o avassalador vazio existencial.
Onde o botão para desligar os pensamentos ?

Já não tenho palavras para expressar o que sinto.
A angústia por algo que continua vivo.
Adrede, me quedo resignado.
Nada mudou enquanto eu dormia.
Morro um pouco a cada dia.

Às vezes penso que consigo
Esquecer de antiga vida.
Em consolos vãos, prazeres fugazes.
Mas as lembranças logo retornam.
Temo que sem elas, seja ainda pior.

E assim vou levando.
Na faina rude, 
na lassidão da nova vida, 
subjugar a mente.
Como um ferreiro a malhar o ferro frio. 











sábado, 10 de agosto de 2019











               sobre dúvidas


Na dúvida, fique na cama.


A dúvida é a verdade aprisionada.


Quem ama, duvida. Só os tolos não duvidam.


Quanto mais eu vivo, mais eu duvido. De tudo.


A dúvida é a ante-sala do conhecimento.


Simples assim : na dúvida, diga não, e a verdade aparece.


Antes a dúvida do que o arrependimento.


Entre a dúvida e a certeza, às vezes é melhor nem saber.











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