quinta-feira, 21 de novembro de 2019




                     ontem, hoje, amanhã






O que foi ontem,
o amanhã apaga.
Hoje, o teu amor em mim é uma incógnita. 
Em cada instante a vida é diferente,
e todo tempo é tempo de mudanças,
despedidas.
O que se ganha, o que se perde
há que ser devidamente valorizado.
Para que o hoje não seja pueril,
o riso não falte, 
a tristeza não faça morada.




quarta-feira, 20 de novembro de 2019




                      a linguagem dos anjos








Ai de quem busca na poesia 
desafogo, respostas, 
sentido para as coisas.
Consolo
para os males do coração.
A menos que não se importe em enveredar 
por caminhos ainda mais
tortuosos, 
em versos que não só encantam,
mas confundem, 
sangram,
humilham, 
na medida que soberbos,
ininteligíveis,
intrincados, herméticos,
profanos, insanos.
Sim, pois ainda que admiráveis,
são obras de seres que vivem ou viveram,
em outra dimensão.
Mentes privilegiadas e não raro perturbadas,
criaturas obcecadas,
alcoólatras,
viciados,
loucos, pobretões,
alguns mofando em prisões,
outros entregues à libertinagem, 
à militância política, ou
entediados burocratas, 
e até mesmo um certo ajudante de
açougueiro, 
cujos sublimes poemas, dizem,
é o que mais próximo chega à 
linguagem dos anjos : Shakespeare.


















 

terça-feira, 19 de novembro de 2019


     

               QUEM AVISA, AMIGO É






Sinto dizer mas enganaram você.
O amor não é essa maravilha que falam.
Para começar, já vem com data de validade.
Com custo-benefício pra lá de duvidoso.

Se não lhe disseram, digo eu :
acima do amor, vêm os interesses.
Ou seja, grana, vida boa, 
um mínimo de estabilidade.
Sem o quê, cedo ou tarde as coisas
degringolam.

Pois não pense que vão ficar com você
por muito tempo, se não puder sustentar a casa,
proporcionar algum conforto, segurança.
Pode até durar um tempo, 
por senso de responsabilidade, teimosia, 
ou falta de opções,
mas arrefecida a paixão,  
as insatisfações vem à tona.
E o enfermo amor padece, esfria.
Se acha que a chegada dos sonhados filhos
muda as coisas, muda sim : para pior.
Pois logo você se vê escanteado, em segundo,
quando não, em último plano.
Relegado à condição de mero provedor.

Estarei sendo radical demais ? Pode ser.
Não pense que estou aqui 
para desencorajá-lo. 
Nada disso, ao contrário.
Vá em frente, apaixone-se, curta intensamente,
a fase inicial costuma valer a pena.
Apenas não se iluda, vacine-se, 
esteja preparado para os efeitos colaterais.
O seu grande amor
amanhã pode ser seu maior desafeto. 
Alguém capaz de jogar sujo, falar barbaridades
apelar para golpes baixos
como você jamais poderia imaginar.
Daí o meu aviso.
A vida tem dessas falsetas.
Quem avisa amigo é.

























                  POR QUE ?





Por que não morre 
o que eu quero que morra ?
Por que só morre o que eu
não quero que morra ?
Aquilo que me é mais caro.
As crenças, a fé, a esperança...



segunda-feira, 18 de novembro de 2019




               Entre a Serpente e a Estrela



Há um brilho de faca
Onde o amor vier
E ninguém tem o mapa
Da alma de uma mulher.

Ninguém sai com o coração sem sangrar
Ao tentar revelar
Um ser maravilhoso
Entre a serpente e a estrela

Um grande amor do passado
Se transforma em aversão
E os dois lados lado a lado
Corroem o coração.

Não existe saudade mais cortante
Que a de um grande amor ausente
Duro feito diamante
Corta a ilusão da gente.

Toco a vida pra frente
Fingindo não sofrer
Mas o peito dormente
Espera um bem querer.

E sei que não será surpresa
Se o futuro me trouxer
O passado de volta
Num semblante de mulher.


(Canção de Zé Ramalho
Composto por por Paul Fraser/Aldir Blanc Mendes/ Terry Sttaford)

domingo, 17 de novembro de 2019


                       achados e perdidos

                 


Acende-se o fogo
e o fogo nos consome.
Pode a fé fazer do lobo, cordeiro ?
Fazer sincero o impuro sentimento ?

Uma voz insiste em perguntar
no meu ouvido : estás perdido ?
Ora, dentro de cada ser
há segredos insondáveis.
Uma eterna busca
nos achados e perdidos da vida.

Finda a juventude de memoráveis prazeres,
hoje os dias são todos iguais.
Me compraz a falta de perspectivas.
A vida sem planos e ilusões.
Liberto das esperanças nocivas,
sem precisar de ninguém.
Sem a premência de ser feliz.



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