sexta-feira, 22 de novembro de 2019





                                  o espelho






Esse rosto que vejo no espelho
não me é estranho.
Um pouco envelhecido, o olhar meio perdido,
mas ainda o mesmo cara.
Estou sabendo que sua vida 
não tem sido fácil.
Que as coisas deram uma guinada
nos últimos tempos,
perdas dolorosas, irreparáveis.
Para quem viveu a vida toda em família,
imagino a barra que deve estar sendo
ver-se repentinamente sozinho. 
Mas faz parte, sabemos todos que a vida 
é assim mesmo,
dentro da velha e manjada filosofia de sempre,
ou seja,
hoje temos, amanhã deixamos de ter,
um dia tudo acaba.
Sei que andou dando cabeçadas,
cometendo desatinos,
mas quem passaria incólume 
vendo as coisas desmoronarem,
a vida pessoal e profissional
repentinamente de ponta-cabeça ?
Sabendo ter sido o grande responsável por tudo.


Pois é.
Sou esse cara que se olha no espelho,
e que nunca esteve tão consciente de tudo.
Do que fez de certo e errado, que abriu os olhos 
para muitas coisas que não via,
que se esforça
para compensar os estragos. 
Que não guarda mágoas, não sente revolta,
pois sabe que no fim das contas,
está pagando pelos erros cometidos.
Sou esse cara que ainda sente, 
sofre, se emociona,
chora à toa, que ainda erra, 
mas que se olha no espelho e, 
finalmente,
gosta do que vê.


























quinta-feira, 21 de novembro de 2019




                     ontem, hoje, amanhã






O que foi ontem,
o amanhã apaga.
Hoje, o teu amor em mim é uma incógnita. 
Em cada instante a vida é diferente,
e todo tempo é tempo de mudanças,
despedidas.
O que se ganha, o que se perde
há que ser devidamente valorizado.
Para que o hoje não seja pueril,
o riso não falte, 
a tristeza não faça morada.




quarta-feira, 20 de novembro de 2019




                      a linguagem dos anjos








Ai de quem busca na poesia 
desafogo, respostas, 
sentido para as coisas.
Consolo
para os males do coração.
A menos que não se importe em enveredar 
por caminhos ainda mais
tortuosos, 
em versos que não só encantam,
mas confundem, 
sangram,
humilham, 
na medida que soberbos,
ininteligíveis,
intrincados, herméticos,
profanos, insanos.
Sim, pois ainda que admiráveis,
são obras de seres que vivem ou viveram,
em outra dimensão.
Mentes privilegiadas e não raro perturbadas,
criaturas obcecadas,
alcoólatras,
viciados,
loucos, pobretões,
alguns mofando em prisões,
outros entregues à libertinagem, 
à militância política, ou
entediados burocratas, 
e até mesmo um certo ajudante de
açougueiro, 
cujos sublimes poemas, dizem,
é o que mais próximo chega à 
linguagem dos anjos : Shakespeare.


















 

terça-feira, 19 de novembro de 2019


 




                  POR QUE ?





Por que não morre 
o que eu quero que morra ?
Por que só morre o que eu
não quero que morra ?
Aquilo que me é mais caro.
As crenças, a fé, a esperança...



Postagem em destaque

  A gente tem um vício estranho em transformar sofrimento em mérito. Acreditamos que o amor verdadeiro precisa ser uma batalha épica, uma co...