segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020
domingo, 23 de fevereiro de 2020
SUSPEITA
O mais triste não é a separação em si.
O fim de uma longa e tempestiva relação.
Acontece.
Doloroso mesmo é não vê-la mais
com os mesmos olhos.
É ver o que não via, anestesiado
pelo narcótico do amor.
É saber que provavelmente superestimei
o que tínhamos. Que provavelmente
nunca a conheci.
Ver que é capaz de jogar tão baixo,
apelar para os mais vis ardis.
E tudo para quê ?
Justificar o fim daquilo que talvez
nunca tenha existido ?
Ou que findou, sem percebermos ?
Mas que de qualquer forma,
em nome dos bons momentos,
que foram muitos,
não merecia acabar de maneira
tão deprimente.
Daí a suspeita de ter vivido uma grande farsa.
As coisas perdidas confundem
o desenganado coração.
É saber que provavelmente superestimei
o que tínhamos. Que provavelmente
nunca a conheci.
Ver que é capaz de jogar tão baixo,
apelar para os mais vis ardis.
E tudo para quê ?
Justificar o fim daquilo que talvez
nunca tenha existido ?
Ou que findou, sem percebermos ?
Mas que de qualquer forma,
em nome dos bons momentos,
que foram muitos,
não merecia acabar de maneira
tão deprimente.
Daí a suspeita de ter vivido uma grande farsa.
As coisas perdidas confundem
o desenganado coração.
Nenhum vício, o máximo que se permite é um bom vinho de vez em quando. Extremamente disciplinado, leva à risca a rotina de trabalho, estudo e cuidados pessoais. Trabalha de despachante aduaneiro na firma do pai, mas faz questão de não ter regalias. Chega sempre cedo e não tem horário para sair. À noite, cursa o último ano da faculdade de Tecnologia da Informática. Não é bem o que sonhava fazer, mas entende que o futuro estará cada vez mais dependente do mundo do computador.
Está com 24 anos, em plena forma, vai à academia no mínimo três vezes por semana, é extremamente vaidoso, gosta de creminhos, traz os cabelos longos presos num rabo de cavalo. É católico não praticante, acredita em Deus mas religião e política são assuntos que prefere manter-se afastado. É filho único de pais separados, se dá bem com os dois mas optou por morar sozinho. Foi a maneira prática que achou para assumir sua homo-sexualidade.
Teve que fazer dois anos de terapia, mas hoje está de boa, não se vê dentro de nenhum desses rótulos que só servem para estigmatizar as pessoas. Namora um rapaz um pouco mais velho, sempre mantendo a discrição, pois sabe que apesar dos avanços nessa área, o preconceito está arraigado nas pessoas. Mesmo em relação aos pais, sente que
a aceitação é muito mais para não magoa-lo do que propriamente
natural. Bem apessoado, as moças o paqueram desinibidamente, há alguns anos chegou a namorar uma antiga amiga, não deu certo mas se tornaram ainda mais amigos.
Sabe que terá um caminho difícil pela frente, mas se considera privilegiado por desfrutar de condições materiais e intelectuais para lidar com sua condição de gay. Descrente da instituição da família como garantidora de bem estar e de felicidade, não faz planos para o futuro. Assume seu niilismo sem amargura. Há quem o ache um tanto cínico, mas não liga. Aliás, há poucas coisas que dá importância. Considera a auto-suficiência fundamental dentro do modelo de vida que escolheu. Sem alimentar grandes expectativas, sem esperar nada de ninguém.
sábado, 22 de fevereiro de 2020
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