sexta-feira, 8 de maio de 2020




                                       dona Dalila






Absorto aqui, na minha fortaleza da solidão, mais solitário 
do que nunca nesses tempos de pandemia,
me peguei pensando, como sempre acontece em meio a alguns tragos, numa das últimas conversas que tive com minha
finada mãe, enquanto ainda lúcida, mas já virtualmente pregada 
numa cama, na casa da minha mana Ingrid, que por 
sinal, Deus também levou pouco tempo depois.
"E você, meu filho, está feliz ?".
"Claro, mãe, por que pergunta ?"
"Porque me preocupo. Você sempre fez tudo por tua família, 
será que eles vão fazer o mesmo por ti quando tu ficar velho ? 
A tua mulher, tão mais nova que tu ?"
"Mãe...Não se preocupe. Ela me adora..."
Ah, minha mãe, dona Dalila. Não era nenhum amor de sogra, 
mas enxergava longe.



  




               

                    a droga da vida




                     

                                 


Nada é tão grande que não possa perder sua essência 
ao contato furioso da existência.
Entre o começo e o fim, só o que fica é aquilo que, revelado, 
não pode mais ser mudado.
Nem fazer mal.
Mas cabe ao acaso a palavra final.
Quer vivamos ou não, há os que sofrem, e há os que pensam que sofrem,
alheios ao real significado da dor.
Mal sabem o quão privilegiados são
às vezes pelo simples fato de sobreviver,
em meio a tantos que tombam. Do nada, sem critério,
apenas porque chegou a hora.

Por que desaprendemos ao aprender ?
Talvez porque aquilo que nos dá prazer
muda com a gente. 
Faz a gente mudar. 
Geralmente para pior.
E quando já nada nos satisfaz, a droga da vida literalmente 
nos consome.
À míngua de tudo que se quis. 






 













quinta-feira, 7 de maio de 2020





                                           reset






Antes de mais nada, é preciso
fazer as pazes com o passado.
Sair da negação para a aceitação.
Desatrelar-se de pessoas que se foram,
situações irremediáveis.
Em suma, fazer um reset da vida.
Para poder seguir em frente.
Construir uma nova história.
Se não mais rica,
menos inglória.




quarta-feira, 6 de maio de 2020







verba volant, scripta manent. 
(Palavras voam, a escrita permanece).


Mais que ninguém, sei muito bem
da veracidade de tal provérbio latino.
O que escrevi está à mão, ou melhor,
à vista e ao permanente escrutínio
de qualquer cada um. Depondo contra
ou a meu favor. 
Se de algum valor ou simples asneiras, 
vai de cada um julgar. 
O problema (do entendimento) está na proposta 
pretensiosa desses escritos. 
Na pretensão de fazer literatura. 
O que exige método de abordagem, apuro, conteúdo. 
Algo que não me sinto em condições de avaliar. 
Ainda mais sendo iminentemente sentimentais, 
contrariando o que ensina mestre Fernando Pessoa, 
para quem o poeta "deve viver cada estado da alma 
antes pela inteligência que pela emoção".
O que explica soarem como um recorrente libelo
pessoal, cuja narrativa se desgarra da obrigação
de serem palatáveis, de fácil leitura.
Em meu desdouro, mas se assim não fosse,
não seria eu. 




 






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terça-feira, 5 de maio de 2020


                   


                             
                                            MEU TRIBUNAL INTERIOR











































De ti só lembro
do pouco que foi bom,
e do muito que não deu
tempo de ser (anônimo)




segunda-feira, 4 de maio de 2020










Nada é verdadeiramente nosso.
Tudo nos é emprestado. 
A vida nada mais
é do que um comodato,
com prazo indeterminado. 



















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                              prodígios                     Há sempre um ritmo oculto à reger as coisas. Nada acontece por caso. Nem o acaso...