segunda-feira, 1 de junho de 2020



                                                    cair na real


 





Há fases na vida que equivalem a verdadeiros testes de sobrevivência. Às vezes por um certo tempo, às vezes permanentemente, o fato é que viver implica em pagar o preço compatível, cada qual com sua cota de dor, sofrimento, normalmente atrelados as nossas escolhas, ou simplesmente pertinentes a forças maiores, ao destino de cada um. 
 
Costuma-se dizer que nada dura para sempre, mas o insatisfatório às vezes dura, sim, uma eternidade. Que é quando não temos a capacidade de mudar as coisas, quando nos limitamos, nos conformamos e aceitamos condições degradantes como modo de vida. O comodismo é por si só um fator negativo poderoso, no impasse entre sair da zona de conforto e tentar algo novo às vezes desperdiçamos a vida. É quando a intervenção do acaso, do destino, da providência divina, ou coisa que o valha, acabam nos submetendo a mudanças que colocam nossas vidas de cabeça para baixo. No primeiro momento, com ares de tragédia, caos, mas com o tempo,  transmutados em verdadeiras dádivas, bençãos divinas.

O que não significa que essa transição seja fácil, automática, e muito menos indolor. Muito pelo contrário, como diz o ditado, sem sacrifício, sem ganho. Tudo começa pela conscientização, pelo  gradativo controle dos sentimentos, responsáveis pelas emoções, paixões e impulsividade. Não há prazo nem atalhos para tal transformação, pois cada um reage conforme seu approach  pessoal, tem seu tempo, que independe da própria bagagem cultural. Nesses casos, meros acessórios dos mecanismos de defesa ligados ao instinto de sobrevivência.  

Tudo isso para reafirmar que tudo na vida é um processo em constante mutação, com muitas variáveis. Que na maioria das vezes estagnamos por opção própria, que o sofrimento, os danos, somos nós mesmos que nos infligimos. Que o maior mal que podemos nos causar é nos auto-enganarmos. Fechar os olhos, não ver o óbvio.  
Em suma, há que se ter noção das coisas. Cair na real, pura e simplesmente, não complicar o que já é complicado.


 



 





    






  



  




 






domingo, 31 de maio de 2020


                                                             inseto





                                               

Sou como um inseto, preso numa armadilha.
Quando mais me debato, mais me enrosco.
À mercê da carência, do vazio existencial.
Me alimentando das sobras de amores imaginários.
O coração faminto me levando a perder
o resto da dignidade.
Despojado do que a vida tem de melhor.

No tempo elidido 
de esperanças que malogram e renascem,
a espera de um caminho
à procurar-me.
Até que não exista mais a hipótese
de uma existência.
Como um inseto preso numa armadilha.













                                

        mistério que nunca finda

































Coisa mais burra
a saudade
do que nunca
existiu.
Do que era
só ilusão.





segunda-feira, 25 de maio de 2020




                             A CAIXA DE PANDORA





Creia, é melhor não saber.
A verdade quase sempre é desagradável,
chocante, devastadora.
Saber o que falam às suas costas.
Saber o que fazem às suas costas.
Descobrir o lado obscuro da criatura amada.
As coisas feitas, omitidas.
Traições, mau-caratismo.
Perceber que viveu uma grande mentira.
Que foi usado, feito de otário.
Melhor deixar quieto.
Não ir muito à fundo.
"A verdade vos libertará" pode ser bonito
em tese,
mas na prática equivale a abrir 
a Caixa de Pandora.
Para a qual nunca estamos preparados.
















                          













     

domingo, 24 de maio de 2020





                                         apenas e tão somente








A ideia de já não fazer parte de nada.
De já não ter nem querer nada que inspire e acalente.
De viver por viver, meramente gastar o tempo.
O impulso de querer mas nada poder fazer
ante o que não pode ser mudado,
tal qual jogo jogado.
Eis com o que é preciso lidar.

Aceitar, adaptar-se às mudanças irremediáveis.
Adequar-se ao processo natural das coisas.
É disso que se trata.

A vida no altar das potestades dementes.
A realidade de cada um sofreada à humana condição.
Deixar de existir para refazer-se na palavra consoladora,
sobre as ondas altas do órfico delírio.

Apenas e tão somente isso.
Apenas.
Isso.


















Postagem em destaque

  A gente tem um vício estranho em transformar sofrimento em mérito. Acreditamos que o amor verdadeiro precisa ser uma batalha épica, uma co...