domingo, 19 de julho de 2020


                          

                               ANDAR





Andar, andar, andar...
Nada como andar.
Para acalmar.
Não endoidar.

Amo andar.
Penso melhor quando
ando.
Mas às vezes é o contrário,
ando para não pensar.

Não tenho medo de morrer.
Tenho medo de não poder
andar.






sábado, 18 de julho de 2020




                                          a última impressão








Dizem que a última impressão 
é a que fica.
E de fato, você pode ter sido bacana, direito
a vida toda,
mas no dia em que pisar na bola,
é disso que vão lembrar.
Um passo mal dado e vai tudo por água abaixo. 
No mais das vezes,
sem o benefício da dúvida.

A memória é fraca, a felicidade fugidia.
Mágoas, ressentimentos, permanecem
além do tempo.
Maculam qualquer sentimento.
Impedem que se veja o lado bom
das coisas, do que passou.

Ora, por mais motivos que eu tenha, 
não quero ser assim.
Esquecer o que ficou para trás.
Quero ser aquele que lembra dos pais
como eles eram na plenitude,
e não como ficaram na velhice,
amargurados, desfigurados.
Quero ser aquele que preserva
os incontáveis momentos felizes do passado,
e não como os que se obrigam
a repudiar, consumidos pelo
remorso e rancor.
Quero ser aquele que sabe que teve uma vida
boa, que correu atrás de seus sonhos,
que amou, teve família, bons filhos,
que sabe que tudo valeu a pena,
mesmo o que não valeu a pena;
e não como aqueles que maldizem
a sorte, por ver as coisas arruinadas
quando poderiam ter evitado. 

Me recuso a deixar que a última impressão
seja a de fracasso. 
Quero minha memória bem viva para lembrar 
dessa história 
em que a beleza e a doçura 
venceram a amargura.








































                 para não morrer de tédio





Cada um têm a vida que merece.
Ou não.
Não há como ter certeza.
Cada um sabe de si, se faz jus ou não
ao que têm, ao que lhe acontece.
Mas nunca temos o real controle da situação.
A qualquer instante, uma borboleta bate as asas
no outro lado do mundo,
e do lado de cá tudo desaba.
Inegavelmente, colhemos o que plantamos.
É básico, elementar, 
mas é óbvio que não é só isso.
É claro que o fator sorte existe,
e é preponderante.
Para o bem e para o mal.
A começar pelo nascimento.
De quem são seus pais.
Onde nasceu, o ambiente em que cresceu,
a época,
e por aí afora.
O fato é que tudo é aleatório,
apenas seguimos a corrente,
à mercê de forças maiores.
De coisas que não entendemos.
Cujos mistérios e sortilégios atribuímos
a um Deus que nos fez imperfeitos de propósito.
Para não morrermos de tédio.
Nós e Ele.









































                         o sinal







Espero um sinal,
uma mensagem,
o menor gesto de boa vontade,
que nunca vêm.
Dia após dia, o silêncio que crucia.
Bem que me dissestes,
"me esquece, segue tua vida
que eu sigo a minha."

Hoje, acabaram-se as palavras,
as lágrimas secaram,
e uma solidão robusta
engole as horas.
Já não acuso,
já não espero respostas.
Apenas um sinal
que nunca vêm.




sexta-feira, 17 de julho de 2020




                                             perfume






Às vezes, do nada
sinto o perfume
da mulher amada.
Aquele aroma inebriante
que levarei para sempre
entre tantas coisas
tantas lembranças
inolvidáveis.

Ah, esse perfume inconfundível
de onde virá ?
Será a imaginação ?
Fruto da privação 
de tudo que me fazia feliz ?
Não importa.
Importa é ter o que lembrar.
O que vivi, 
ninguém vai me roubar. 













terça-feira, 14 de julho de 2020





                  Fator D : fuja, enquanto há tempo






A tese da natureza intrinsecamente maligna do ser humano é recorrente em meus escritos. Ainda que dentro do prisma da dualidade de forças entre o bem e o mal, penso que só a perspectiva de castigo e reprovação faz com que as pessoas contenham os maus instintos. O que nas relações pessoais torna as coisas ainda mais complicadas, a medida em que esse tipo de comportamento errático tende a inviabilizar qualquer relacionamento sadio e duradouro. É o quê os especialistas chamam de Fator D, uma série de distúrbios comportamentais associadas as pessoas maldosas.

"É fácil identificar uma pessoa maligna, difícil é entendê-la", sentenciou Fiodor Dostoiévski, o famoso escritor russo que conhecia a natureza humana à fundo. E de fato, não obstante tratar-se de algo palpável e muito mais comum do que se imagina, entender e até mesmo identificar essas anomalias é um desafio até para os estudiosos da matéria. Exatamente por ser a dissimulação um dos traços marcantes de uma pessoa maldosa, assim como uma série de outras características que os pesquisadores definem como "núcleo obscuro" da personalidade, como a propensão a enganar, a mentir, trapacear. Pesquisas conduzidas por psicólogos da Alemanha e da Dinamarca sugerem que a falta de escrúpulos desencadeia uma espécie de cadeia de degradação moral, em que um comportamento maldoso específico leva a outro, e assim por diante.

Em suma, são as tais pessoas que costumam usar os outros, que colocam seus objetivos e interesses acima de tudo, sem qualquer sentimento de culpa ou vergonha.

De acordo com os pesquisadores, são nove os traços obscuros que resultam em comportamento maldoso :

1. Egoísmo : preocupação obsessiva com as próprias vantagens, em detrimento das dos outros.
2. Maquiavelismo : atitude manipuladora e insensível, amparada na crença de que os fins justificam os meios.
3. Desconexão moral : estilo de processamento cognitivo que permite que se comportem sem sentimento de culpa e vergonha.
4. Narcisismo : sentem-se superiores e centro das atenções.
5. Direito psicológico : crença recorrente de que são melhores que os outros e merecem um tratamento diferenciado.
6. Psicopatia : falta de empatia e autocontrole, combinadas com um comportamento impulsivo.
7. Sadismo : sentem prazer em ofender ou até causar dano físico a quem as contraria.
8. Interesse próprio :  desejo de status social e financeiro.
9. Falta de escrúpulos : não medem consequências para atingir seus objetivos, mentem e enganam sem qualquer sinal de arrependimento.

Conhece alguém com esse perfil ? Então fuja, enquanto há tempo !





 






  

segunda-feira, 13 de julho de 2020





                      Íncubos e Súcubos






Minha vida ainda não acabou.
Apenas arrefeceu.
Os ímpetos, as volúpias, 
resumidos a surtos.
A amores frívolos e curtos.

Eis-me, enfim, do jeito que te aprouver.
Pouco se me dá o parecer pouco lisonjeiro
com que me vês.
Sem glória nem vintém.
Contra a moral e os costumes,
sou tudo o que convém
para justificar o teu desdém.

O desencanto não tem fim.
Íncubos e súcubos celebram
a desonra do antigo amor.
Na amargura e senilidade se dissolve
o que era para não ter fim.
De penas e tédio transcorrem os dias
em que me faço de forte, 
para tapear a morte.













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