quarta-feira, 22 de julho de 2020




                                                                gratidão




                       


Essa solidão no fim da vida,
é justa, merecida.
Justa, porque assim não sou
um fardo para ninguém.
Merecida, ora, porque colho 
o que plantei.

Não foi o que planejei,
não era o que queria,
mas há momentos em que as coisas
fogem do controle.
Por culpa nossa ou obra
do destino,
de repente tudo desanda,
ou simplesmente caducam.
Faz parte, há que aceitar, buscar algum bálsamo 
na penosa lassidão de quem sabe
que o fim está próximo. 
Que cada dia sem dor e sofrimento
é uma vitória.
Cada dádiva, um presente. 
Minha fé é fraca, mas a gratidão é grande. 
Por ter tão pouco a pedir, e tanto a agradecer.
































terça-feira, 21 de julho de 2020


                                                 coisa de momento









Fazer poesia é como tirar
fotografia.
É coisa de momento.
O registro permanece,
mas os sentimentos não.    

Tudo muda, como uma bola 
que cai no quintal do vizinho,
que ele, ao invés devolver,
fura.









domingo, 19 de julho de 2020



                                                   VELHICE







Tudo é sempre igual 
na velhice.
A expiação da rotina.
A provação das dores.
O flagelo das lembranças.


Ser velho é trágico e ridículo.
Ouvi num filme outro dia e concordo.
Definhar nunca é bonito.








                          

                               ANDAR





Andar, andar, andar...
Nada como andar.
Para acalmar.
Não endoidar.

Amo andar.
Penso melhor quando
ando.
Mas às vezes é o contrário,
ando para não pensar.

Não tenho medo de morrer.
Tenho medo de não poder
andar.






sábado, 18 de julho de 2020




                                          a última impressão








Dizem que a última impressão 
é a que fica.
E de fato, você pode ter sido bacana, direito
a vida toda,
mas no dia em que pisar na bola,
é disso que vão lembrar.
Um passo mal dado e vai tudo por água abaixo. 
No mais das vezes,
sem o benefício da dúvida.

A memória é fraca, a felicidade fugidia.
Mágoas, ressentimentos, permanecem
além do tempo.
Maculam qualquer sentimento.
Impedem que se veja o lado bom
das coisas, do que passou.

Ora, por mais motivos que eu tenha, 
não quero ser assim.
Esquecer o que ficou para trás.
Quero ser aquele que lembra dos pais
como eles eram na plenitude,
e não como ficaram na velhice,
amargurados, desfigurados.
Quero ser aquele que preserva
os incontáveis momentos felizes do passado,
e não como os que se obrigam
a repudiar, consumidos pelo
remorso e rancor.
Quero ser aquele que sabe que teve uma vida
boa, que correu atrás de seus sonhos,
que amou, teve família, bons filhos,
que sabe que tudo valeu a pena,
mesmo o que não valeu a pena;
e não como aqueles que maldizem
a sorte, por ver as coisas arruinadas
quando poderiam ter evitado. 

Me recuso a deixar que a última impressão
seja a de fracasso. 
Quero minha memória bem viva para lembrar 
dessa história 
em que a beleza e a doçura 
venceram a amargura.








































                 para não morrer de tédio





Cada um têm a vida que merece.
Ou não.
Não há como ter certeza.
Cada um sabe de si, se faz jus ou não
ao que têm, ao que lhe acontece.
Mas nunca temos o real controle da situação.
A qualquer instante, uma borboleta bate as asas
no outro lado do mundo,
e do lado de cá tudo desaba.
Inegavelmente, colhemos o que plantamos.
É básico, elementar, 
mas é óbvio que não é só isso.
É claro que o fator sorte existe,
e é preponderante.
Para o bem e para o mal.
A começar pelo nascimento.
De quem são seus pais.
Onde nasceu, o ambiente em que cresceu,
a época,
e por aí afora.
O fato é que tudo é aleatório,
apenas seguimos a corrente,
à mercê de forças maiores.
De coisas que não entendemos.
Cujos mistérios e sortilégios atribuímos
a um Deus que nos fez imperfeitos de propósito.
Para não morrermos de tédio.
Nós e Ele.









































                         o sinal







Espero um sinal,
uma mensagem,
o menor gesto de boa vontade,
que nunca vêm.
Dia após dia, o silêncio que crucia.
Bem que me dissestes,
"me esquece, segue tua vida
que eu sigo a minha."

Hoje, acabaram-se as palavras,
as lágrimas secaram,
e uma solidão robusta
engole as horas.
Já não acuso,
já não espero respostas.
Apenas um sinal
que nunca vêm.




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