domingo, 16 de agosto de 2020

                                  

                                                agruras


 

Entre as agruras normais do envelhecimento, nada é mais danoso do que a auto-desvalorização. Não só o sentimento de inutilidade, de insignificância, mas principalmente o de depreciação da vida passada, a propensão a achar que fracassou em tudo. Algo que pesa e transforma a fase terminal da vida num suplício ainda maior do que normalmente é.

Nem me refiro a natural degradação dos laços afetivos, quase sempre inevitável no transcorrer do tempo, o que por si só torna a velhice um inferno para muita gente. Quanto a isso, pouco ou quase nada se pode fazer. A grande e derradeira batalha - na qual por sinal me encontro empenhado -, é exatamente não ser seu maior inimigo. Não deixar que a auto-depreciação, o sentimento de fracasso, piore o que já é ruim demais.   





 

   

  

 


     


As crianças são nossos maiores mestres, pela pureza e sinceridade, mas são as pessoas inescrupulosas as que mais nos ensinam. São as que mentem, enganam, traem, ou seja, as que nos ensinam que a maior burrice que se pode cometer na vida é confiar.

 

 




  

sexta-feira, 14 de agosto de 2020


                              o pior ainda nem chegou



Por motivos óbvios, nunca se falou e houve tanta preocupação com a morte como atualmente. E não é para menos, com a dita-cuja rondando sorrateiramente por aí, na forma de um vírus que quando encasqueta, não livra a cara de ninguém, velho, novo, pobre, rico, da raça que for, é bem liberal o filho da mãe.

É realmente estranho, inusitado, viver sob o espectro de algo tão abrangente e preocupante, não só por tratar-se de uma experiência totalmente nova, que pegou o mundo desprevenido, como pelo fato de estar longe de ser eliminada, como se vê pela média de mais de mil mortes diárias só aqui no Brasil. O que sugere que a volta à normalidade ainda demore a acontecer, se é que acontecerá, considerando que o perfil da doença ainda não está devidamente mapeado, obrigando a manutenção de medidas preventivas por um tempo indefinido.

Como arcar e lidar com o custo disso tudo é que é o grande dilema. O cenário é dramático, e as consequências econômicas ainda estão porvir, em função da falência de mais de 600 mil empresas e 3 milhões de desempregados, segundo as estimativas mais recentes. Sem falar no já anunciado desarranjo das contas públicas, que levou o governo a cogitar o estouro do teto de gastos, por enquanto abortado, sem o quê não terá como manter o socorro emergencial à população e as empresas em dificuldade. 

Ou seja, a morte ainda será preocupação diária por muito tempo. Com a diferença de que menos pela Covid diretamente, e mais por suas consequências junto a economia, e das outras enfermidades dela oriunda. Ainda mais se for confirmado que mesmo os curados estão sujeitos a desenvolver doenças em diversos orgãos.

Oremos.


       

 





     



    

        

 










   

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

 

                        VIDA LONGA AOS HIPÓCRITAS




Luta inglória, reverter sentimentos.

Recuperar aquilo que foi perdido.

Restaurar o amor, o respeito.

Como tudo que se quebra, 

os sentimentos nunca voltam a ser como eram.

Inútil tentar.

Bobagem insistir.

O máximo que se consegue é um arremedo

tosco e insatisfatório.

Melhor esquecer, se conformar,

partir para outra.

É o certo a fazer.

Como conviver com alguém que te traiu,

que mente, finge ser o que não é ?

A menos que se aceite as regras do jogo.

Que todo mundo mente, finge, trai.

Todos, menos a pujante raça dos hipócritas, é claro.

Felizmente, a grande maioria.

Porque sem eles, a vida em comum seria

impossível.

















quarta-feira, 12 de agosto de 2020


                         o Deus do desamor




Não sei se a vida é errada ou o errado sou eu, mas estranho que Deus 

tenha caprichado tanto no geral e acabasse perdendo à mão no arremate. 

Ao criar o Homem, essa aberração que destoa em sua obra-prima.

A menos que tenha sido proposital, por mera diversão, para quebrar a monotonia

que as más línguas dizem imperar no Paraíso. 

Não é à toa que o inferno parece bem mais divertido. 

Não é à toa que o seu anjo dileto se rebelou,  e que o próprio menino Jesus 

debandou quando pôde, segundo o relato insuspeito do sublime 

"Guardador de Rebanhos",  de que Deus está velho, caduco 

e pouco se importando conosco, simples mortais.


Ora, de fato, tivesse Ele amor pela humanidade, por que esse sofrimento todo, 

essa cruz que carregamos desde o nascer ?

Não faz sentido. 

O imperfeito ser humano não se explica, a não ser como um contraponto, 

um apêndice, ou o mais provável, um rebanho para ser imolado ou para

louvar-Lhe os feitos.


O que eu sei é que Deus não é bom para quem ama. 

Porque nos fez fracos, permissivos, promíscuos,  de modo que cedo ou tarde 

tudo estragamos.  

Estragamos o amor,  e ficamos com a dor, doenças, solidão. 

Sabe-se lá sob quais critérios, poucos conseguem a graça de uma vida tranquila.

Ou estarei exagerando ?

Que Deus não se envolve, em função do livre-arbítrio ?

Pode ser, mas o diabo se envolve, e como !


Ok, são conjecturas toscas, não sou nenhum guardador de rebanhos 

como o grande poeta lusófono, o que penso não importa,

sequer sei onde me encaixo, por que ainda estou vivo,

se em tese já dei o meu melhor, e a essa altura apenas gasto o tempo,

sem qualquer expectativa de dias melhores,

tampouco de amenizar meu fardo, me reabilitar

aos olhos daquela que hoje diz que preferia não ter me conhecido.

Tal o mal que lhe causei.

Eu só sei que Deus não é bom para quem ama.

Mais que no amor, é no desamor que Ele se encontra.















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