terça-feira, 8 de setembro de 2020


                     a rosa púrpura do Cairo





Não é porque as coisas se baseiam 

no interesse 

e no dinheiro 

que precisam ser evitadas.

Basta saber, não se iludir.

Mil vezes chamar uma puta, comer, pagar

e mandar embora,

que viver uma relação insatisfatória.

Mas vai de cada um, sempre

há quem se contente com pouco, ou

em ser corno manso. 


Como sabemos desde sempre,

alguém tem que ir para o sacrifício.

Manter a aura de integridade, 

segurar a bandeira da caricata vida familiar.

O importante é conservar as aparências,

um título bonito para um filme ruim.

Como A Rosa Púrpura do Cairo.













  

 


               MAIS DIDÁTICO, IMPOSSÍVEL





As coisas acabam.  

Os sentimentos morrem. 

As pessoas se vão. 

A vida está sempre mudando. 

Adaptar-se é preciso. 

Deixar remorsos, 

dores de consciência para trás. 

Não ajudam em nada. 

Como diz o estribilho daquela antiga canção,

"levanta, sacode a poeira

e dá a volta por cima".

Mais didático, impossível.





                                        desmanche



 


Desmontar

a obsoleta engrenagem

da minha vida pregressa

peça por peça.

Esquecer aquilo que se dispersou

como um sonho dentro de um sonho.

Sem mais palavras, explicações vãs, 

simplesmente por

um etc ao fim da frase.

Levar a vida que falta,

sem mentiras,

subterfúgios,

tipo assim,

reciclar o que não deu certo,

para não incidir nos meus erros.








 






Fazer as coisas certas 

pelos motivos errados,

merece castigo ? 



segunda-feira, 7 de setembro de 2020


                           voar não dói

                     





Ontem, hoje, amanhã,

 o que foi, o que tive, o que sou, 

o que me sobrou...

Tempo e espaço que se combinam

no que vai, no que vem.

Bençãos e desgraças irmanados.

Incautos aqueles que amam

sem esperar o soco, o troco, o tiro.

Como se fosse possível amar sem brigar,

sem se estranhar,

sem se decepcionar.

Como se a gente pudesse combinar

de nunca se machucar.

Arre, não é assim que funciona.

Voar com as asas feridas dói.

Mas é preciso.

Porque é voando que a ferida cura.







Ah, sim, 

o cara é bom no que faz.

Mais um zé ninguém que de repente 

vira celebridade,

enche o cu de ganhar dinheiro.

Viva o funkeiros, youtubers, 

influencers.

Para a cultura do lixo,

público nunca faltará.








Parar de escrever.

Por mais que eu queira,

não consigo. 

Não enquanto não encontrar a linguagem em estado de pureza selvagem,como nos versos de Octávio Paz;ou falar o infalável como Goethe;dispor as melhores palavras na melhor ordem, a la Coleridge;

ou simplesmente, fingir que sinto a dor que deverasmente sinto,tipo Fernando Pessoa.

Se bem que isso eu já faço. 

Então, me aguentem.

 




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