a sina dos deserdados
E se eu tivesse nascido aleijado,
deformado, pobre, preto, doente, mentalmente desiquilibrado,
largado, abandonado, sem um lar, sem uma família,
num buraco qualquer, num gueto, indesejado,
mal-amado,
maltratado,
como tantas crianças,
como a maioria das crianças,
que crescem sob as maiores privações,
sem acesso a nada,
estudo, saúde,
discriminados,
marginalizados,
sejamos francos,
quem poderia me julgar ?
Quem poderia me condenar
por não seguir as regras,
aos padrões vigentes,
impostos pela burguesia, pelos poderosos ?
Tive a sorte de ser bem-nascido, nada me faltou,
a vida foi generosa comigo,
o que me obriga a ser minimamente compreensivo
e tolerante
diante da excruciante sina dos deserdados.
Por mais difícil que seja, considerar os atenuantes.
Ninguém é ruim por acaso.
E nem todos são maus por natureza.