sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

 


                onde mora o perigo





Amar não se explica.

Sente-se.

Vive-se.

Inventa-se.

Na sombra,  nos ilumina.

Na luz, nos cega.

Ah, o amor,

arrebatador em seu doce enleio,

corações e olhos se buscam esfaimados,

como crianças mamando no seio.

Embevecidos, aos prazeres se entregam, 

os defeitos não enxergam. 

E aí é que mora o perigo.


 






                                    valimento






 Minha pena dura

a folha nua

penetra.

No coito que se consuma, porém,

não vi, amor, nenhum valimento.

Só palavras vãs,

feitas de saliva e de sêmen. *


Inspirado nos versos de Joaquim de Francisco Coelho.


No contrato que eu tu lavras/não vi, amor, nenhum valimento/ só

palavras e palavras/ feitas de sonho e de vento.





                                                                 déjà vu





Quanto tempo desperdiçado, 

quando queremos recuperar, o prazo acabou. 

Não é assim que funciona ?

Cada coisa a seu tempo, que é onde as peças

se encaixam. 

Ou deveriam. Porque raramente encaixam.

E nem poderia. Ninguém nasce sabendo. 

E o que não encaixa, não se resolve, é o que

atravanca lá na frente.

O desperdício de tempo, 

de oportunidades.

Quando acordamos, já é tarde.

O bonde passou, a vida passou, a festa acabou,

e tudo paira como um recorrente déjà vu. 

uma eterna quarta-feira de cinzas.

Feliz de quem ao menos a folia aproveitou.






  

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020



                       os deuses não perdoam





Os amigos, conta-se nos dedos.

Os prazeres, bruxuleiam como tocos de vela.

Os amores, sepultam-se todos os dias.

Assim fenece toda gloriosa existência.

Fadada a sentença e esquecimento.

Sem qualquer livramento.

A não ser viver a vida sem viver.

Em dádivas que nem sabem que são dádivas. 

Na opulência mesquinha, ante a miséria do mundo, 

ai de quem ousa ser feliz.

Os deuses não perdoam. 






Das trevas fez-se a luz.

E o que eu vi,

cegou-me.


 

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