Não me pejo
de como me vejo.
Sou um lampejo
de mim mesmo.
até simplesmente desaparecer
Me proibi de ficar triste, de me sentir infeliz
por qualquer bobagem.
Por coisas que não posso mudar.
Mesmo me sendo muito caras.
Minha vida foi muito boa, a velhice não é
motivo para estragar tudo agora.
Só porque estou sozinho.
Só porque perdi minha família.
Só porque quase não vejo meus filhos.
Só porque meu ex-amor me repudia.
Só porque a vida continua resumida a trabalho
e a matar tempo.
Só porque não consigo mais correr, jogar bola.
Só porque quase não tenho amigos.
Ah, não, não vou permitir que ninharias
azedem meus dias.
Os poucos dias que me restam.
Os quais pretendo usufruir em paz
e sem maiores expectativas.
Até simplesmente desaparecer.
o triste jugo de ser alguém
Mais do que o afeto,
mais do que o próprio amor,
o homem anseia por respeito.
Como trabalhador.
Como provedor.
Cumpridor de seus deveres.
Como pessoa de bem.
Eventualmente sujeito à falhas, tropeços, quedas,
como qualquer ser humano.
Porém, nem por isso indigno de receber
o que lhe é devido.
Na pública luz das batalhas anônimas,
nossos atos prosseguem seu caminho sem fim.
Urdindo conquistas e tragédias.
Quando o corpo se cansa de ser o homem que foi,
o reconhecimento é a régua de sua obra.
Que lhe servirá de consolo ou agonia.
Que é quando os dias consagrados
ao inútil labor de servir e agradar os outros,
enfim o livrarão do triste jugo de ser alguém.
famintos de amor
Da mulher espera-se submissão
e lealdade.
Algo que ela só finge dar.
Arte que domina com maestria.
A ponto de fazer o homem sentir-se
senhor da situação,
iludido pelas artimanhas do invólucro
perfeito.
Mulher que, com a linguagem fértil do corpo,
torna crível as juras mais improváveis.
Inebriante os beijos.
Irresistível a paixão.
Volúpia que tão logo extinta, revela os ardis
mais diabólicos.
Aos quais o homem, incautamente, se submete.
Como mendigo faminto de amor que é.
o quanto sei de mim Faço do meu papel o sonho de um desditado. Cavalgo unicórnios a passos lentos, para que o go...