terça-feira, 15 de junho de 2021

domingo, 13 de junho de 2021


                            livro inacabado




Há pegadas humanas na lua.

Há deuses-alienígenas que explicam todos os

mistérios que não entendemos.

Há auroras boreais que congregam toda beleza

profanada da terra.

Há vestígios de povos desconhecidos que precederam

toda forma de conhecimento.

Há auroras atrozes que perduram como o pêndulo

que o tempo fez parar.

Há jardins de Edens que acalentam a vigília dos proscritos.

Há formas e matizes que lavam os dias 

das causas inominadas.

Há ontens que entesouram o incrível.

Há criaturas feitas de ouro e ilusória memória.

Há esperas que não valem a pena.

Há enigmas e silêncios invioláveis.

Há o princípio e o fim de toda epopeia.

Há o desejo de não ter nascido. Não aqui, não agora.

Há a crença em fábulas e magias, e a descrença na palavra

humana.

Há o querer que perdeu a conta de tanta rejeição, e que

de algum modo volta feito onda.

Há o mistério de se reinventar quando tudo parece perdido.

Há sempre quem acenda um fósforo no escuro.

Há uma realidade paralela que só os ascetas conhecem.

Há o esquecimento das dádivas recebidas, mas não dos malfeitos.

Há o saber inútil no abuso da etimologia.

Há simulacros que o tempo concede para urdir breves

formas de felicidade.

Há o bem que devemos louvar e agradecer a cada

instante da vida.

Há o murmúrio do mar e da chuva, que não mudam.

Há as aventuras ínfimas que talvez sejam os fios mais 

duráveis da trama da existência.

Há o grato amor ao ingrato amor, que se elidiu 

a cada remordimento e cada mágoa.

E há o porvir, 

o delicado tempo que tudo modela,

e no qual nossa aventura terrestre se escreve

como um livro inacabado.




 










sábado, 12 de junho de 2021



                   nem saudades, nem remorso




 

No mesmo instante que o teu olhar 

me penetrou,

como um objeto cortante,

eu soube que nada mais 

seria como antes.  


          Volta e meia passo no lugar

          em que a conheci,

          como que procurando algo que perdi.



Nem saudades, nem remorso.

Só sinto pelas coisas

que poderiam ter sido 

e não foram.

 








                      provação





Sou um homem só numa tarde vazia.

Evocando, a um só tempo, epopeia e elegia.

Proibido de ver além da gasta memória.

Ferido pelos estilhaços do desejo e do medo.

Sou o que fui de muitas formas e mortes.

Denso rio de ignorância e soberba.

No fundo, vulnerável e frágil como os valentes

que ousam enfrentar a travessia

de mãos vazias.


À falta dela, amo a ausência que a faz

ainda mais bela.

Fiel à insana vocação humana de, em já não a tendo, 

insistir em reaver o que está irremediavelmente perdido. 

Missão na qual sucumbem os mais 

destros e fortes.




 



sexta-feira, 11 de junho de 2021




        lembrança



A primeira vez que a vi,

Ela tombou a cabeça

E jogou os cabelos para o lado.

A última vez que a vi,

Ela tinha um coque

E um novo namorado.


(Rogério Noia da cruz)



 

terça-feira, 8 de junho de 2021




                     outra vibe



O pior da separação 

é quando um dos dois ainda gosta,

ainda alimenta ilusões,

baseado nas boas recordações 

que o coração

preserva.

Enquanto o outro lado virou a página, 

está em outra vibe,

e no máximo só consegue

lembrar com desdém das coisas de outrora,

e ainda mais das fantasias quixotescas

que o antigo amor teima em manter.



domingo, 6 de junho de 2021




                sabedoria




Para tudo que tens opinião,

preste muita atenção, há muito o que considerar.

Não se deixe enganar com adornos,

quinquilharias, contas de vidro, 

tudo aquilo que brilha feito ouro de tolo. 

Preocupe-se antes de mais nada, em desatar os nós, 

desaprender as baboseiras que te ensinaram, 

destruir as paredes que te aprisionam, para, aí sim, 

sob os mais nobres princípios,

ver a realidade despida dos embutes 

que os manuais chamam de sabedoria.


















  

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