quarta-feira, 27 de outubro de 2021


                              no apagar das luzes





Assim como este virtual apagar das luzes,

meus versos também encontram seu termo,

como ondas que arrebentam nos molhes.

Nada mais tenho a dizer.

Nada devo a ninguém, nem me sinto credor.

Logo a vida que se esvai não será mais

que memória.

Vago canto de pássaros que não vemos.


Vejo passar meus últimos dias como quem

não tem mais nada a perder. Muito menos ganhar.

O que fiz de bom ou de ruim me segue como um

cão fiel.

Quando a hora chegar, hei de estar arrumado

como para ir a uma festa.

O melhor de viver é esperar.






segunda-feira, 18 de outubro de 2021



Às vezes tudo é uma questão de não abandonar

o barco só porque está fazendo água.

Mesmo porque todo barco faz água.



 

domingo, 17 de outubro de 2021

                                 


                                 a procura


Para Itamir Frantz




À razão da luz que vara preguiçosamente a bruma,

alguém que se desconhece

olha pela janela em busca do que ser,

antes que os vermes o devorem. Conquanto já o devorem.


Já teve tudo o que poderia pretender,

mas, no entanto, nada o satisfaz.

E ao negar o tempo, contra o mundo vasto e desfeito,

ombreia-se à Natureza,

alheia a seus recorrentes e obsidiados dilemas. 


E assim, à vista de seu próprio elemento,

mortifica o velho corpo na ânsia de refrear o tempo.

Firmemente, vive como um zangão

que abdica da colmeia.

A procura, se não de descobrir-se,

ao menos do fim da escuridão.  






quinta-feira, 14 de outubro de 2021

 




Todos tem algo a dizer.

Poucos se dispõe a ouvir.





                           culpa e castigo



 

Eu te amei e consumi nosso amor

até à exaustão.

O niilismo da culpa me sentencia

a viver para sempre como pó.

O coração dissoluto se distrai lambendo 

a memória,

em seu silêncio de seda.




 

terça-feira, 12 de outubro de 2021



Meu pai me ensinou muitas coisas

sem dizer uma palavra.

Dava o exemplo.



 





O que fazer com as gastas palavras ?

Como diz o mago Borges, engano supor 

que para cada coisa existe

uma palavra.

"A vida é fluída e cambiante; a linguagem,

rígida".

De fato, andamos às cegas, atrás de artifícios

retóricos que melhor expressem os sentimentos.

Alguns poucos conseguem.

Por acaso, poetas.


 

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