fruta proibida
No cofre dos desejos,
o coração, imantado,
à espera das sensações que o corpo
pede.
Compensações, diria, em contraponto
ao abandono
que paira como túmulo violado.
A vida obliqua só faz sentido no deleite.
Morder a fruta proibida.
penhores
Dos versos que escrevi para essa desalmada,
o que mais me dói
é ela não ter entendido nada.
Nada mais justo que te esqueças de mim.
Nada lamento, fiz por merecer.
Antes de partir,
só me faço um favor :
me restitua o amor
que te dei em penhor.
Poucas coisas resistem ao tempo.
Sobretudo, aquilo que não é nosso.
Afetos, amores presumidos.
a realidade extraviada
Deixei-me nascer de novo.
Venho de caminhar por eras de cifras e marcos
que me legaram, por assim dizer,
três vidas em uma.
A memória sobranceira desapegou-se
das antigas diegeses.
E de tudo desaprendido - dúvidas, desejos,
paixões -, abraço essa realidade extraviada
como um presente inesperado.
Agora podem me ver como realmente sou.
Nem feliz, nem triste,
posto que despojado de tudo
o que me alegrava e me tolhia.
E, quase póstumo, me permito
viver como nunca consegui.
às margens do nada
Aqui termina essa viagem em que tudo é cansaço
e abandono.
A distância entre as coisas, nos dias de todos,
o que resta, senão, aceitar ?
Às margens do nada, as nuvens ignoram a verdade
desconcertante.
É tarde, cumpro o percurso que me redime ou me cega.
Fui aquele que preferiu contemporizar à dor.
Em todas as coisas aniquiladas, a precisão da punição
injusta se apega a tudo que não existe mais.
Enquanto a vida sangra sem qualquer esperança,
como uma fera mortalmente ferida.
à margem de mim Passei a vida à margem de mim mesmo. Desperdicei meus parcos talentos por falta de discernimen...