domingo, 19 de junho de 2022




                    ELEGIA





Nada me restou senão a mim mesmo.

Trago veredas e fragmentos de solidão no olhar.

As respostas que procurava abriram fendas no nada

das causas naturais.

De concreto, apenas o olfato

                                     o tato

                   e o fato de ainda poder celebrar

a angustiante alegria de viver.

Pois mesmo quando a vida fere,

a força dos sentimentos ausentes

pavimentam os caminhos que meus pés

ainda não andaram.




 

sexta-feira, 17 de junho de 2022



                                    a ressaca da verdade





 

Meu mundo perdeu-se do mundo.

Meus sentimentos debandaram para o limbo dos abandonos.

Raciocínios tortos engendram formas de sarar as feridas.

Conquanto o coração pulsa rendido de desencantamentos.

No mundo que se desfaz em meio às aparências,

as palavras já não atingem o seu fim.

Na ressaca da verdade, os segredos de ontem boiam como merda

na privada.

Vivo de apegar-me a crenças postiças, em que sonho 

e imaginação se confundem.

Encarando a rotina como uma viagem inacabada,

na qual o amor paira como um girassol seco

esquecido no canto da sala. 

Escrevo minha história como um cão que uiva 

para a lua.


  

quinta-feira, 16 de junho de 2022



                        precaução 






Ninguém perde por duvidar.

Por se precaver contra tudo o que vem do ser humano.

Confiar é a maior besteira que se pode cometer na vida.

Não é à toa que amor e amizade só prosperam na falsidade. 

Tente ser correto, sincero, para ver o que acontece. 

Um fala e o outro finge que acredita, e vice-versa : eis 

o arranjo perfeito.



quarta-feira, 15 de junho de 2022

terça-feira, 14 de junho de 2022



                                                            duas caras





Tudo é tão estupidamente insano que revoga toda 

e qualquer possibilidade de ser humano.

Desentendimentos afloram sob qualquer pretexto, ignorância 

e má fé campeiam. 

Ajudar o próximo, fazer o bem, poucos dão valor.

Só vale pela satisfação pessoal. 

Nossos dias são marcados por conflitos, afrontas. 

Tudo que se faz de bom desaparece no pântano das incompreensões. 

O processo é desgastante e contínuo. 

Vai de uma relação à outra.

A norma é a decepção, o fracasso. 

As pessoas são intrinsicamente 

perversas, maldosas. 

O que torna o enredo suportável é um, cada vez 

mais raro, altruísmo. Ainda que desencorajado, esmagado

pela egoísmo reinante.


Todos temos duas faces, duas caras : uma pública, outra privada.

Nada mais difícil do que conciliá-las.

Ninguém é o que parece. 

Quem já não se enganou redondamente com pessoas 

que na superfície são uma coisa, e no íntimo

se revelam outra, totalmente diferentes ?

De um jeito ou de outro, o desencanto é inevitável.

A medida que você conhece as pessoas, uma barreira, 

um muro, um abismo vai se formando.

Há que ter a manha de construir pontes. 

Acender uma vela para Deus e outra para o diabo.







  






   

segunda-feira, 13 de junho de 2022

 

      

   faltas e ignorâncias





A vida requer muito da gente.

Mais do que podemos entregar.

A confusa mente, mente, trapaceia, faz de tudo 

para ostentar um conhecimento que não possui.

Não o suficiente para evitar transtornos de toda espécie.

Somos aqueles que rastejam à procura de nossos próprios

e tortuosos fins.

Buscando recompensas para nossas faltas e ignorâncias.

Alheios ao fato de que tudo tem seu tempo.

Vidas secas e sem rumo escorrem pelas paredes.

Quem nunca pensou em suicídio ?







                                      gênese 



                                  


                            

Em que ontens me perdi ?

Não ter renunciado foi meu erro.

As coisas que podiam ter sido me punem.

O amor não devidamente compartilhado me sentencia

a cumprir a agonia de esquecer.


Esquecimento que é vingança e perdão.

Ao mesmo tempo perto e longe da sabedoria.

Em atos que prescrevem seu caminho, que permitam

viver sem amargura nem soberba.

Recordar os dias de ouro alheio as secretas leis eternas.

Para poder te ver, ó musa infiel,

inocente como um animal que é presa.


Ergo os olhos sobre a crepuscular farsa de formas difusas,

e me vejo abençoado por sobreviver 

a conversão de todas as coisas. 

Refeito aquém do engano, entressonho o sonho 

que rege minha renovada gênese.  

.




 

 

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