não custa sonhar
A chuva, o rio,
ruas, sombras, muros,
trabalho, prazeres,
memórias que esplendem em luzes trêmulas.
Passos erradios depõem lares, palácios.
Altas torres de ódio e perdão se impõem.
Na vida que é um lamento só,meu canto é meu unguento.
Num sopro, num gemido, tudo se vai,
tudo se perde.
Tempestades dispersam as angústias e as chagas.
Lembranças fustigam, me impedem de ser feliz.
Tornam tudo um arremedo do que foi.
A tudo desmerecem e falsificam.
Quereria acreditar, mas nada é confiável.
Muito menos o amor.
Convém não pagar para ver.
Convém aderir a mentalidade reinante.
Converter-se a liturgia do mais valia.
Sob os auspícios da nova e frívola era global.
Chove. Ainda bem.
Cai a noite. Ainda bem.
Virar a página é preciso.
Amanhã é outro dia. O mundo não é bom,
mas sempre há compensações.
O sol brilhará outra vez,ah, mas eu amo a chuva...
Chuva que lava a vida.
Para que volte a ficar brilhante e mágica.
Não custa sonhar.