terça-feira, 12 de julho de 2022




                         o desfecho de sempre





Mais um ex-amor à derribar.

Mais uma decepção à lamentar.

Culpa de quem, pouco importa,

diante do desfecho de sempre.

Ambos cheios de razões e de dedos.

Ambos errados.


segunda-feira, 11 de julho de 2022


                                      tudo e nada






A vida dá e tira. 

O costume inútil de querer ser feliz

se resume ao gozo momentâneo.

O tempo paciente lima os dias de antanho.

Sigamos, pois, insones e sonhando.

Sendo nada para ser tudo.

O espírito sincopado em conformidade com os ritos.

O rude ofício arquitetando caos e paz.

Nascidos provisoriamente entre belezas crismadas

e esqueletos, cumpre-se o pacto redentor.

A morte do homem para glória de Deus.




 

domingo, 10 de julho de 2022




                       causa perdida





Tudo muda a todo instante.

Todos mudam conforme as circunstâncias.

O bom em ruim se transforma.

Já o contrário, espere sentado.


Rostos se transfiguram.

Gostos se alteram.

Permanecer é uma proeza.

Todos exigem, poucos entregam.

O simples querer é uma causa perdida.







 



             ser ou não ser





Pode um ser

               ser ou não ser

literal ou teatral

               ser, afinal, etc e tal

tal e qual

               mero animal

que sói, ser, entretanto,

               sentimental ?



sábado, 9 de julho de 2022



                    

               não há milagre maior

               do que acordar 

               para um novo dia






Nada mais inútil que o hímen.

No silêncio cabem muitos silêncios.

Nada mais difícil do que a virtude mental.

É trilhando abismos que se perde o medo da queda.

À promoção do prazer é o bem ao qual nos consagramos. 

Ou seria o inverso ?

A essência de uma mulher não é o que ela mostra, mas

o que esconde.

Cultivemos a afetividade, para aceitarmos as incoerências.

Anjo negro de jaspe, céu incrustado de azul turquesa,

corpos incandescentes em rotas de colizão. 

Complexidades involuntárias repletas de plenitude.

Punhos fechados medram resistências ferozes.

Acordes incoerentes põe nossa fé à prova.

Peles e escamas são as verdadeiras armaduras. 

Egrégias etimologias talham o inconcluso alfabeto do entendimento.

Isto não é poesia, e sim um canto que transborda de ser apto.

Diz o bufão que odeia imposturas, affff...

Felizes os que se deleitam em sacrificar a premência. 

Nenhum anseio transmuta verdes em flores brancas.

Fascinados pelas coisas fúteis, com entradas mas sem saídas.

Persuadidos pela seletividade elástica. 

Monogâmicos de gostos eletivos.

A parva humanidade, profanadora de covas medievais.

O que há por detrás da transcendência ? 

Anacoretas não moram em palácios. 

Sede fiel a si mesmo, "fazei todas as coisas sem murmuração e contendas".

A palavra reconfortante descansa tranquila como 

um lagarto no sombreado. 

A inocência da virtude é a moldura da solicitude.

Pássaros esquadrinham os céus,

tartarugas singram os mares,

abetos se erguem em procissão : tudo em perfeita harmonia.

Já o amor cega.

O juízo impessoal não faz distinção de benefícios.

A impostura é um cavalo de Tróia.

O sentimento mais profundo se mostra no silêncio.

O infortúnio encoraja outras formas de ser.

Não há desonra no ato de capitular. Desonra é desistir

sem lutar.

Não há milagre maior do que acordar para um novo dia.



















 



 

                 a diferença





Cena urbana corriqueira que flagrei 

outro dia : uma ninhada de gatinhos 

abandonados numa caixa de sapatos. 

Menos mal que sempre há alguma alma 

caridosa para acolher os bichanos, como foi o caso,

folgo em dizer. 

Menos sorte teve uma prole de ratos 

que minha mãe descobriu 

no fundo de um armário velho, na minha longínqua 

infância em Cachoeira do Sul, incinerados, 

ainda vivos, no quintal.

O guincho agonizante dos bichinhos e o cheiro 

de carne queimada nunca mais me abandonaram. 

Pois assim é a vida, em que nascer gato ou rato 

faz toda diferença.







 





terça-feira, 5 de julho de 2022



                      esquecido da vida,

                me inventei de ser feliz





Pregustar a manhã, o leve e macio toque do sol.

Que faz arrebol, desova passarinhos,

brinca com o vento.

Ah, o florescer do dia, regado por restos de orvalho,

pétalas noturnas, 

a pensar as cicatrizes de batalhas perdidas.

Esquecido da vida, me inventei de ser feliz, 

ainda que por instantes.

Bom seria ser o musgo dessas pedras,

"comunicando-se apenas por infusão, por aderências,

por incrustrações", como no poeminha pescado

nas pré-coisas de Manuel de Barros.

 

 

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