Coisas na vida que não se regeneram :
amor, ladrão e puta.
o direito de fraquejar
De dar dó, esse cara.
Cansado de se fazer de forte.
Cansado de lutar contra o desânimo, a tristeza.
Cansado de ver que nada se resolve, nada acontece,
em boa parte por culpa própria, como bem sabe.
Cansado de si mesmo, de como lida com as coisas,
de como não se faz respeitar,
por conta do coração generoso e molenga.
Vive com o filho adolescente que o tem como um
criado.
Os outros dois mal tomam conhecimento
de sua existência, menos mal, dele já não precisam.
Do amor nada mais espera, e vive tentando se convencer
que é melhor assim.
Que o importante é a saúde, o ganha-pão,
o que felizmente não lhe faltam.
Só que a vida não é só isso.
Não para quem tem um buraco no coração, sofre de uma brutal
carência afetiva.
Que carece de ser lembrado, de um ombro amigo,
interesse genuíno, e não da boca para fora,
que é o que mais têm.
Pois é como ele se sente neste exato momento.
Talvez amanhã passe, e volte ao "normal".
Cabeça erguida, fingindo não precisar de ninguém.
Sem direito à fraquejar.
QUE NOJO !
À vista dos fatos,
não posso deixar barato,
posto que tudo fede.
A grande farsa que se engendra
não é prerrogativa de pobre,
é um banquete de carne podre.
O notório vigarista volta à cena,
para retomar os despojos dos antigos saques,
no país em que o crime compensa.
Em que o mal impera,
sem justiça, sem decoro, sem povo.
Que nojo !
nada podia ser melhor
Meu momento é de contrição.
Mas sem remorsos vãos, porquanto inúteis.
No jogo jogado, as perdas e ganhos já não contam.
Tudo se resolveu por conta própria.
O mundo das coisas gastas, a dissipação das dúvidas,
os pináculos do pentagrama : o círculo se fecha
à desguisa das diásporas e metástases.
O tempo flui neutro.
Nada podia ser melhor.
A rosa cortada, a fórmula exata da vida desperdiçada
subtrai-se até o extravaso do bicho carpinteiro.
Meu momento : o coração saltimbanco, resgatado,
tergiversando, caindo de maduro ?
Please, poupem-me dos detalhes sórdidos...
Gazua não serve. Bazuca, talvez.
Como diria Leminski, em briga de camundongo perneta
com caranguejo capenga, abelhudo não se mete.
Se agora me interrogo é porque me desconheço.
Refugiando-me em Maracangalha.
Insignificantemente sujo, pouco, interdito.
Me busco onde está tudo perdido.
No nuliverso.
Agora deu.
quando algo vai mal
Quando sonhar é melhor que viver,
algo está errado.
Quando a mentira se sobrepõe a verdade,
algo se corrompeu.
Quando esquecer é preferível a lembrar,
algo se subverteu.
Quando duvidar é melhor que acreditar,
algo dentro de você se quebrou.
Quando perdemos a capacidade de amar,
algo dentro da gente morreu.
A gente tem um vício estranho em transformar sofrimento em mérito. Acreditamos que o amor verdadeiro precisa ser uma batalha épica, uma co...