sábado, 12 de novembro de 2022



                              há que dar valor



É especial

essa musa improvável e sacana

que pintou na parada,

quando eu já não esperava mais nada,

além da tradicional troca de facadas.


Não faz juras nem promessas, me chama 

de "amor" 

como se fora um ficante qualquer.

Não é decente, sequer honesta.

Mas ao contrário das outras, 

ao menos esta 

eu sei que não presta. 









                                tango ensaiado





Creia, não há nada confiável.

Nada que não possa se corromper.

Não há crença que com o tempo não desmorone.

Menos mal que não há farsa que não venha à tona.

E a tudo sobrevivemos.

Mais fortes, menos crédulos, ou mais ou menos isso.

Sempre é possível tirar algum proveito.

Tornar o enredo suportável.

Como um tango ensaiado.






 



 




                         o disfarce perfeito





A gente pode ser muitas coisas quando quer, 

quando precisa.

Fingir que ama, que gosta, que goza,

quando é conveniente. Por necessidade.


No fundo, ninguém sabe quem é quem.

A convivência é o disfarce perfeito.

Na qual fingimos ser 

o que não somos.


 





Fico pensando no que estarás fazendo, longe de mim.

E é aí que o diabo entra em cena...


 



                   mein kampf


Não fiz tudo o que gostaria de ter feito,

mas fiz com que tudo que vivi

valesse a pena.

Mesmo as coisas tortas.

Mesmo os passos erradios.

Hoje, mein kampf é para que o perdido

não seja uma mortalha.

Livre do jugo de ser feliz.






              felizes para sempre, só em filme





A convivência embute armadilhas, ciladas, desafios.

Exige muito mais que simples compreensão.

Requer tolerância, paciência, e sobretudo, sabedoria 

para lidar com o inevitável desgaste das relações.


Algo que vai muito além dos atributos do próprio amor,

cuja natureza ambígua aponta justamente para o oposto.

Para a posse, o monopólio, a coerção. 

Traição.


As razões do coração não combinam com racionalidade.

Juntos e felizes para sempre é a maior falácia 

que nos incutem.

Coisa de quem não sabe do que o amor é capaz. 

Quando degenera.



 




 

sexta-feira, 11 de novembro de 2022




O disfarce é perfeito.

Assim nua, recém saída do banho,

nada além da gloriosa visão do corpo prestes

a entregar-se às minhas mais loucas fantasias,

esqueço de onde vens, 

quem realmente tu és.









 

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