quinta-feira, 8 de dezembro de 2022



                        meu tempo de otário acabou





No fim das contas, tornei-me aquilo que nunca quis ser.

Não muito diferente de todo mundo.

Egoísta, hipócrita, mentiroso, em suma, um farsante

como outro qualquer.

Que finge ser o que não é, para não ficar 

em desvantagem.

Meu tempo de otário acabou.

Até isso devo a você.






 



               o caos que me devolveu a vida.






Como lido com você, me diga ?

Me diga, me dá uma dica de como me imponho, 

me recomponho, 

recupero o autocontrole,

a vergonha na cara.

Nem me reconheço de tão carente, 

dependente de toda e qualquer coisa que venhas me dar.

Mesmos os rompantes, os despautérios

com que me torturas.

Nunca conheci alguém tão inconstante.

Anjo e demônio ao mesmo tempo.

Que feitiço é esse que me põe de joelhos,

me encanta e castiga,

não tenho mais paz.

Você é o caos que me devolveu à vida.





 

segunda-feira, 28 de novembro de 2022



                      do que eu não gosto






Não gosto de ser um peixe cego no jardim do oceano.

Não gosto de macegas que abrigam serpentes

num mundo injusto e cruel. 

Não gosto de me arrepender de meus acertos, e sobretudo,

dos enganos.

Não gosto de acordar sem enxames articulando-se no arame

farpado dos dias. 

Não gosto do rumo que minha vida tomou, marchetada

de arrimos e de casta masturbação.

Não gosto de promessas impregnadas de doçura e mentiras.

Não gosto de flor sem perfume, sexo sem beijo, do que finda

mas não acaba.

Não gosto de ser como sou, emotivo, sentimental, impulsivo,

idiota, tolo,

ingênuo, babaca, carente.

E sobretudo, humano.

Porque ninguém liga.

Ninguém reconhece.

Ninguém entende meu esforço 

para tornar lírica uma existência de merda.






segunda-feira, 21 de novembro de 2022




Às vezes se fingir de burro é a maneira

mais inteligente de manter uma relação.


               Treine a mente para não ser

               refém dos sentimentos.


Nunca deixe que os fatos atrapalhem a verdade.







 

               



sábado, 19 de novembro de 2022




                 drama vulgar





O novos tempos são maleáveis.

Uma vez banalizado o inesperado, apenas especulamos

sobre as demandas suspensas no tempo.

O único diálogo possível é o da presunção.

Gerações se debatem em conflitos de mútuos preconceitos.

Sem nostalgias e mistificações, não há conduta 

apropriada para evitar o contínuo desastre. 

O amor é um mosaico de belezas aviltadas, banhadas 

de estranheza e desencanto. 

Tudo tem tem seu preço.

Ver e não ver é o insumo vital.

Ver e não ver o que agride, o que destrói.

Ver e contemporizar.

Ver e seguir em frente.

Num tempo em que quase tudo 

é drama vulgar.



 

  



                       nada a perder



 

Alguém sensato diria, afaste-se, fuja,

mas eu primo por não ser sensato,

logo, eis-me outra vez de volta a fruições

sem futuro.

 

O ritual que é prêmio e consolação

tem o gosto de angústias

e histórias inacabadas.

Nada tenho a perder

que já não tenha perdido. 



sexta-feira, 18 de novembro de 2022



                              almas carnívoras




 

É fácil amar o belo.

É natural se entregar aos arroubos da paixão.

Tudo é perfeito, enquanto não se vê os defeitos.

Não há encanto que não se desfaz com o tempo.

Não obstante o amor poder transmutar-se em mil formas,

cultivar os hábitos mais persuasivos,

insinuar-se em nossas artérias com sutis ou poderosos

argumentos.

Persuadir-nos com garras de veludo, rebites nos seios,

vagueando entre limo e frestas.

Ei-lo, pois, em sua plenitude. 

Devasso, perverso. Não dispensa tapa na cara,

sonhando o mesmo sonho que habita almas carnívoras.

Beijando outras bocas, desejando

outros corpos.

Do amor exigindo mais do que pode dar.

No flagelo se revelando.

O amor verdadeiro só se conhece quando acaba.








 

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