segunda-feira, 30 de janeiro de 2023



                    fique esperto



Seja correto, mas fique esperto.

Até com o que é certo.

Ninguém se arrepende

de ser honesto,

é o que se dizia antigamente.

Entre tantas coisas

que caíram por terra.




 

domingo, 29 de janeiro de 2023



                     esculpindo pedras





Reveses lilases demandam neuroses.

Arquétipos retrógrados comem dobrado.

Dúvidas me deliram sangrando.

Exalo-me e fico santo.

Dir-se-ia que qualquer coisa enfastiada de todo querer

é debalde.

O coração pacificado regado a conflitos.

Tanto esforço à procura de apalpar-me. 

Não sou o que sinto.

Complexos cartesianos atravessados na garganta

cheiram a mato e sovaco.

Quimeras abraçam vastíssimos desígnios.

Lido, ledo e leso, errando é que se arrepende.

Ninguém me disse mas eu sei que partir do pressuposto

embaralha as ideias. 

Tudo meio que se baldeia para o anacoluto.

Um nimbo vale mais que qualquer pensamento profundo.

Tão claro que custo a enxergar.

Bom senso requer comedimento.

O colapso agasalha verdades interditas.

Nenhum artifício se sustenta além do tempo alcagueta.

Qualquer dia desses o suplício acaba.

Até lá o rio continuará esculpindo pedras.

Não desisto, mas também não insisto.








sexta-feira, 27 de janeiro de 2023



                                          desbunde





Desnuda, 

a vida enfim

se desbunda.


              Em fuga, a nuvem

        deixa um rastro de chuva.


Honestamente ? Há gente demais 

no mundo, para qualquer coisa dar certo.


            Nada jamais recomeça.

            Tudo continua. (Mário Quintana às avessas)


Poema perdido no caderno velho,

já nem lembro quem teria inspirado.

Poesia é estado de espírito.


               A voz da razão

               interpela o coração :

               por que tanta aflição ?

               Se o sonho já foi sonhado,

               e o jogo, jogado,

               não será melhor,

               apenas e simplesmente,

               desfrutar ?


Nada do que eu ainda quero

se compara ao que já tive.

Mas aquilo que ainda posso ter

ah, vai ser o bolo da cereja.








             








 






quarta-feira, 25 de janeiro de 2023


                       florilégios





A vida em lapsos se perde.

Não servem para nada as coisas que caem 

no esquecimento.

O rio de Heráclito dispensa metáforas.

Aceito afrontas em legítima defesa, mas não abuse.

Volta e meia me acomete um surto de anacronismo agudo,

quem me dera quem ser.

Até as pérolas tem seus dias de ostracismo.

Como já dizia o vigário, nihil obstant saccum est.

Contrafeito, digo palavras que não são minhas.

Estamos conversados, mas qual é o assunto mesmo ?

Num mundo impreciso, é preciso ser inexato.

Só para constar, alhures é logo ali.

Florilégios são sempre bem-vindos.

Quero isso de ser só eu para enfim ser 

alguém diferente.

Não jogo para ganhar, jogo para desfrutar.

A mente vê tudo numa perspectiva trágica, mas nada acontece

por acaso.

A vida, quando não é festa, é guerra. 

Sou contemporâneo de espólios prenhes de silogismos.

Louvado seja quem não acredita sem ver.


 

  









 








   

domingo, 22 de janeiro de 2023



              apreço não tem preço



Que culpa eu tenho

se meu coração é maroto.

Pensa e sente como um garoto,

não se cansa de quebrar a cara.

Sempre disposto a pagar o preço

pelo apreço 

que as moças não conseguem dar.


Ah, coração matreiro,

sempre querendo o que não pode ter.

Comprar o que tem preço

mas não tem valor.









 



                             estranheza



Não estranho que estranhem meu desencanto, 

é até uma certa repulsa, 

com o amor, com as pessoas.

Não é nada gratuito, não nasci assim e nem sou

sociopata ou narcisista, 

como está em voga hoje em dia.

Escrevo por experiência própria, por tudo que já passei.

E no caso do amor, paradoxalmente, por ter amado demais,

por amar quem não merece,

ou de repente,

por não ter sabido amar.

Algo que talvez nunca se aprenda direito.

Daí a necessidade de paciência, tolerância, compreensão.

Cujos limites vão de cada um.

Os meus nunca foram lá grande coisa, admito.

Daí não alimentar mais ilusões sobre o referido.

Não dispenso, mas também não vou correr atrás.


Tipo aquele matuto, caseiro do sítio de um amigo meu, 

que não gostava nem nunca havia jogado bola, 

mas que se viu obrigado a aceitar o "convite" do patrão 

para completar um dos times da tradicional

pelada de churrasco.

Jogo movimentado, bola pra lá e pra cá, e nada do caipira

se movimentar, paradão no meio campo, só faltou

cruzar os braços.

"Corre aí, meu , faz alguma coisa!", cobrou alguém do time,

ante a inusitada inércia do matuto, que não se fez de rogado.

"Oxe, bem que avisei, correr atrás eu não corro.

Mas se ela passar por aqui, 

carco-lhe o pé nela !"












  



 
















                                  nem tudo está perdido



Não controlamos a vida.

Grandes planos geralmente não dão em nada.

Ter força de vontade, fé, não evita os fracassos.

Nossas verdades podem nos levar ao abismo.

É preciso perseverar, mas não espere nada de bom de ninguém.

Acreditar num mundo melhor se opõe 

ao que a vida realmente é.

Ao fato de que todos mentem, enganam, trapaceiam.

Esse é o normal.

A virtude corre por fora, desconfie de quem posa

de bonzinho, de honesto, fiel.

Ser escroto não é bonito mas é melhor do que viver de aparências.


Vivemos num mundo hipócrita, materialista.

Em que os fins justificam os meios.

Em que gente como Maquiavel e Sun Tzu são mais uteis 

que os clássicos gregos.

Mas nem tudo está perdido.

Basta não esperar mais do que o mundo pode dar.

Das pessoas, em particular.


 










 

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