quinta-feira, 27 de julho de 2023



              que a terra há de comer



O indevassável conflito requer requisitos insubornáveis.

Esqueletos de confeitos e normas imprescritíveis regem 

a negra transparência.

Sintaxes perfeitas de armários mofados marcham pelo

labirinto triunfante.

Impregnados de memórias incestuosas.

O inverso do nada coteja o ponderável.

O duro embate dispensa bravura.

Quando a morte já não é nem morte.

A treva engole a trama que a terra há de comer.

A dor universal de cada homem entoa metamorfoses

contagiantes.

Cada canto, cada praça subleva-se contra os pendões

da esperança.

A fome de justiça deslinda a farsa do futuro.



 

quarta-feira, 26 de julho de 2023



Se estou sozinho

anseio por tua presença.

Se estamos juntos

logo me enfastio.

Instáveis, 

somos por demais

compatíveis. 



terça-feira, 25 de julho de 2023



                      o caminho que não escolhi





Ando incógnito por um caminho que não escolhi.

Misturado ao torvelinho alucinado de vassalos de telas, teclas, 

aparatos digitais que invadem, assediam, corrompem

o perene rocio das virtudes.

No grande mar de rostos regurgitados por uma engrenagem

frenética e desregulada, herdeiros mal nascidos 

barbarizam 

em nome de deuses plastificados e desdenhosos.

Estranhos se tornam íntimos, espectadores tomam partido

em cada evento que se autodestrói, sucessivamente.

No ágora em que tudo e nada acontece, a milagrosa

iniciação claudica e prescreve, 

indiferente ao burburinho ordinário.

Como um fugitivo atento, me embrenho na autofagia 

do tempo para não ser devorado.

Antes de devorar-me o caminho que não escolhi.

A vida que não quis.

 








  

segunda-feira, 24 de julho de 2023


               entre engodos e mentiras





O cenário esculpido de mazelas zela por seus loucos.

Invectivando garras como a pítia sobre 

a trípode falsamente engenhosa.

Ora penetrando na absconsa gruta, ora redopiando 

em torno do nada.

A hora do desespero não perde a hora.

Exaustos, deixamos por isso mesmo. Os apelos do influxo

incorporam os pináculos frígidos dos estertores.

Ao tempo em que o anelo digital penetra pelas órbitas

insaciáveis, engolindo bosta e expelindo sensações

de brisa.

Somos mais virtuais que reais, sob a hedionda máscara

do deleite sem culpa.

A pequena vida lateja como estátua num jardim abandonado.

Um deus vítreo e metálico despreza os fantoches dançantes

ungidos por adoradores do reles.

O que se pode fazer quando alguns tem só direitos,

enquanto outros só obrigações ? 

Tudo e nada.

Nada e tudo.

Nada acontece sem um motivo. Nem sempre razoáveis.

Cristo subiu ao calvário para salvar 

o que não pode ser salvo.

É lícito supor que não o faria de novo.

Mais sensato é orientar-se com os cegos 

e festejar com os loucos.

Entre o engodo e a mentira, erguem-se as tochas

e os cantos de vitória.

Traidores da pátria refestelam-se como criminosos

homiziados.

Marcham intactos desde os primórdios.

Nada pode derrota-los.

Que importa se tudo se faz de novo ?

A palavra conforta e distrai.

Somos todos e um só. Estar na plateia ou no palco

já nos condena a consumição perpétua.

O teu fracasso é o meu fracasso, desconhecido irmão.













 



 








 

domingo, 23 de julho de 2023



               negociando com a vida





Arrasto meus ossos cansados por aí

pensando em como o tempo vai suprimindo os prazeres,

até mesmo os mais simples, como caminhar, ter uma 

noite inteira de sono.

Triste, mas é a vida, não há muito o que fazer, a não ser

procurar mitigar e se possível, tirar algum proveito.

Buscar compensações. 

Aprendendo a negociar com a vida.

Saber enquadrar-se nos prós e contra da nova realidade,

mudando a percepção do que se perde, 

para o que se pode ganhar. 

Ao invés da agitação, valorizar a calmaria, o sossego.

Ao invés da vida desregrada, curtir, degustar.

Ao invés do ímpeto irresponsável, o comedimento.

Ao invés de noitadas, uma boa noite de sono.

Ao invés de vícios, voltar-se à espiritualidade, seja 

num centro espírita ou num templo budista.

Ao invés de hiper-dimensionar as preocupações 

comezinhas da vida, descomplicar.  

Ao invés de sonhar com o impossível, viver

a plenitude do possível.

Arrasto meus ossos cansados por aí sem entregar

os pontos. 


















   

sábado, 22 de julho de 2023



                       



A verdade é que em matéria de relacionamentos,

o ideal está longe daquilo que se pratica.

Senão, vejamos.

Amar, em tese, é desejar o melhor para a pessoa

amada. 

É fazer de tudo para deixa-la feliz, certo ?

Só que na prática raramente isso acontece.

Deixamos sempre à desejar.

Exigindo demais e entregando de menos.








Nada mais complicado na vida que os relacionamentos.

Que só prosperam com muita paciência e inteligência

emocional. O quê infelizmente nunca tive.


                     Há pessoas tão sem noção que o único jeito 

              de lidar com elas é ignora-las. 


Tenho medo de ser feliz. A vida

não deixa barato.

O preço costuma ser alto.








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