terça-feira, 12 de março de 2024


                               o sonho dos sonhos





Sonho com solidões ruivas falsamente castas.

Sonho com silêncios mudos que fendem o tempo inaudível.

Sonho com lutas e lutos que assombram as ratazanas históricas.

Sonho com lúgubres responsas misturadas a enfermas mutações.

Sonho com os passos erradios do amor sem dono.

Sonho com paradoxos que enovelam a vida e legitimam

os sufrágios.

Sonho com mendigos abençoados e ricaços debruçando-se 

na ponte dos suicidas.. 

Sonho com paisagens mortas e orfandades entrelaçadas 

de roteiros estanques.

Sonho com mares de ternura e quarteirões de afetos perdidos.

Sonho em respirar, alhures, novos ares.

Sonho todos os sonhos soerguendo-se 

depois de cada queda.


      

domingo, 10 de março de 2024



                              rendição





Esta fugaz felicidade que caminha

à sombra de todas as desventuras, 

formulando hipóteses,

imersa em cantares lassos,

remonta, paradoxalmente,

à própria perda de cada coisa amada.

Cuja ausência, arduamente trabalhada, 

cuidadosamente talhada,

vem de ser a rendição à natureza pueril

da vida.

À transitoriedade de tudo.

À arte de destruir o mundo, 

reconstruindo-o.



sábado, 9 de março de 2024



                     caçador de utopias






Nada me prende a nada.

Que me prende a tudo.

Meu coração urbano 

nunca deixou de ser cigano.

Sem rumo, sem rima, 

caçador de utopias,

vive de fugir a realidade.

O que sobra é a fantasia.



sexta-feira, 8 de março de 2024


                            


                      o futuro doente





 

 

Assim migram os anseios e desforços que se fundem 

no mesmo abraço.

A nova ordem flutua sobre as estátuas despertas.

Acorda os mortos, sacode as crinas dos sonos gementes.

Coopta os sistemas, as máquinas, as urnas.

Assiste o futuro doente, os lunáticos que tramam

as penas do mundo.

Que resiste aos mistérios do tempo, voa sobre

bordéis e igrejas com a mesma desenvoltura.

Desloca-se para onde o bem e o mal convivem

pacificamente.

Dorme na penumbra das auroras ornadas de esqueletos

e labirintos de esperança.

Desce aos porões da miséria coalhados de fantasmas.

Se antoja de um poder afeiçoado aos malditos que regressam.

Do intocado abismo provê a saga de arbítrios e fuzilamentos.




 




quinta-feira, 7 de março de 2024



                         sociopatas x babacas






Criaturas sombrias propõe uma nova ética de sobrevivência 

nos tempos modernos.

De forma honesta e irreverente - sob a ótica deles, é claro.

Os que resistem acabam sendo vistos como dinossauros 

saídos da era glacial

Aos olhos dos próprios filhos adolescentes.

Dar lição de moral, já era !

Cobrar responsabilidade, boas maneiras, já era !

É o "babaca" tentando se entender com o sociopata.

De fato, nada mais anacrônico do que certas imposições

moralizantes.

Não só porque a realidade hoje é outra, como ainda 

não se inventou nada melhor do que o famoso "dar o exemplo."

Portanto, deixe o sermão de lado e não aja como um

babaca, mesmo em sendo.

Porque, no fundo, os conflitos para imputar culpados 

estão diretamente vinculados ao antagonismo interacional.

O essencial é considerar o seguinte : não exponha suas

emoções e sentimentos na ilusão de obter compreensão

e solidariedade.

Os sociopatas, você sabe, zombam da verdade e desdenham

das dores alheias.

Porque para eles é normal ser assim.

O mundo digital é o habitat por excelência dessa nova raça 

que prolifera feito barata, vociferando suas convicções 

sem qualquer escrúpulo ou compromisso com a verdade.

Uma vez instalados dentro do âmbito da própria

ignorância e má fé, é praticamente impossível demovê-los.

Pouco importa quem tenha a razão.

Porque para eles nunca falta pretextos para satisfazer

suas vontades e caprichos,

como fiéis apóstolos da deusa Shiva, que em sua dança

de mil abraços, destrói o mundo sorrindo.


 





 




















quarta-feira, 6 de março de 2024



                           à beira do caos





Persistem em nós sonhos recalcitrantes, 

pêndulos que ultrapassam o tempo de desenganos 

e solidões.

A bem-aventurança da fé espúria nos acompanha,

entre esperanças e abismos veneráveis.

A manopla do tempo verte experiências em meio 

a ondas de ternura e expiação.

À beira do caos, o sol de branca harmonia conjura

os elementos vivos da Criação,

para que o cio das flores e das dores se perpetue além 

da carne miserável.

Há sempre mortos sentados à mesa circular

à dar boas-vindas ao inferno.










                            a cultura do lixo





A nostalgia só acomete os velhos, procede ?

Será porque a vida de antigamente era melhor, mais leve ? 

Ou porque os jovens de hoje professam outros valores ?

O rebaixamento cultural é público e notório, sob 

os auspícios da era digital.

A cultura do lixo e das ilicitudes impera.

A desagregação da família, a degradação dos costumes,

tudo hoje nos remete a quebra dos pactos sociais

e afetivos.

Curtir o momento, a qualquer preço, é a palavra de ordem.

Não esperem que os anjos digam amém.









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