quinta-feira, 29 de agosto de 2024




                   o cara ou coroa da vida





Falta-nos conhecimento

Falta-nos discernimento

Falta-nos bom senso

Falta-nos altruísmo

Falta-nos honestidade

Falta-nos lealdade

Falta-nos amor ao próximo

Falta-nos tudo

Em maior ou menor proporção

Conforme as circunstâncias

Ninguém é melhor que ninguém

Quando a vida nos põe à prova

Tudo pode acontecer

Coragem ou covardia

Dignidade ou baixeza

Vida ou morte

Sorte ou azar

São faces da mesma moeda

No cara e coroa da vida

Deus lava as mãos.



terça-feira, 27 de agosto de 2024

                

                 realidade e fantasia *

                           


Maior é sempre a dor

de não saber por quê dói.

Se não é por amor

Se não é por desamor

Por que dói ?


                Como era azul e grande 

                o meu sonho.

                Realidade e fantasia passaram 

                em direções opostas.

                Lentamente, o sonho sumiu,

                caiu no esquecimento,

                enchendo minha alma 

                de uma onda calma de sono.


* Reescrevendo Verlaine



                sentimentos que procuram sentimentos





A gente não faz ideia da força que tem.

Não tem noção do que é capaz, quando posto à prova. 

Não só em função do prodigioso instinto

de sobrevivência,

presente em todas as espécies, mas, sobretudo,

pelo poder imanente dos sentimentos.

A força de querer, amar, odiar, a tudo transcende. 

Na criatura que se divide em proezas e utopias.

Na fera reprimida e contida por grades seculares.

Naquele que luta e não se entrega,

que se revolta e se enternece,

que ri e chora, 

que educa e doutrina,

que aconchega e repudia, com a mesma intensidade.


Nada é mais poderoso do que sentimentos

que procuram sentimentos.

Do sublime que acalanta e consola.

Do toque que inunda e remexe os sentidos.

Da compaixão que humaniza e aproxima as criaturas.

Da paixão que alucina e desencaminha.

Do amor gratuito e improvável, como

de uma prostituta que dá de graça.  







            monstros bondosos




Contra a correnteza, o fundo iluminado dos becos escuros 

perturba as baleias. 

Claustros de cinzas submersas dispersam

o oceano de corpos.

Infusões de sol gelatinoso perseguem os cardumes

como setas incandescentes.

Grãos perpétuos incrustam as asas verdes da esperança.

A verdade persuade como redes secando ao sol,  

enquanto saboreia o paladar da discórdia.

O desencanto começa com um bom dia e monstros

bondosos.

Ter um motivo nobre para viver é um luxo para poucos.

A maioria apenas vegeta.

Onde há esperança, a razão dá de ombros.

Quem julga não se contenta com pouco.

As postulações sem nexo não temem as aparências.

Por descuido, amor e sofrimento imolam-se

em secreto sacrifício.  

Os predadores de si mesmos são meus vilões favoritos.









 

domingo, 25 de agosto de 2024



                    a hora de apaziguar o coração





Não encontrar-se na ambígua realidade,

e de súbito, ver-se

pacificado pela boca dos mortos.

Na interminável rigidez que abençoa as uniões,

a astúcia terrestre restaura as espigas da noite.

Heranças de barro acumulam velhas desditas.

O que acontece lá fora endurece o coração estigmatizado. 

A verdade sem angústia veste o nu e o invisível.

Irredutível como a vida que regenera a vida, a incessante

maresia santifica o dia.

A cura sem remédio inverte a tristeza das mentiras.

Onde não há ciladas o acaso trama a flor sobre o jazigo.

O gosto do desgosto muda-se na lama, para que a vida

se abra e reparta. 

Embora cego, o que não falta ao amor é olfato e tato.

Cada coisa fora do lugar atrasa o ritmo do remo.

Folhas irisadas pela chuva decifram a ira que condensa.

A tudo que passa, entrega-se um pouco de nós mesmos.

As vagas incessantes da memória se opõe à cegueira

fútil da felicidade. 

Sem acabar, nada recomeça.

A hora de apaziguar o coração é sempre.



sábado, 24 de agosto de 2024



                                o casulo da vida





Desejos nunca satisfeitos fecundam 

o fruto proibido das paixões,

arrancando do precário convívio as enclausuradas

distrações.

O ócio, o vício, o cio, se recriam, a fim de barrar 

o caos circundante das privações. 

Tantas coisas retiram-se de não ser, sem ao menos

terem sido.

Dobras do inquieto futuro escondem o incognoscível

parto das expectativas.

No qual o próprio coração repousa sob a pressão

dos interesses contrariados.

O sentir disfarçado consola e ajuda a desejar os desejos

entrelaçados.

Quem se atreve a libertar-se do casulo da vida,

e como as libélula, ter asas, voar ?





                     o que eu sei da vida




 


O que eu sei da vida ?

Nada sobre passar fome.

Não ter um teto.

Não ter uma família.

Estudo.


Nada sobre ser discriminado.

Perseguido.

Injustiçado.


O que eu sei da vida não me torna

melhor que ninguém.

Muito menos colocar nos ombros 

qualquer tipo de cruz.



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