quinta-feira, 3 de outubro de 2024


                                    razões de viver





As razões de viver, busquei-as

no oco do coração

nas linhas da mão 

nos confins da imaginação

na divina provação

nas peregrinações diárias

nos consórcios das agonias

no fosso das litanias

nos olhares famintos

no aceno dos gritos

no romper dos pactos

na invenção dos amores

nas garras do hipogrifo

nas doutrinas do prazer

na menstruação dos astros

na santidade dos antros

nas entradas e saídas

na cantilena das amarguras

nas guerrilhas domésticas

na genealogia dos súcubos.



terça-feira, 1 de outubro de 2024


                        palavras ao léu





Busco nas palavras o que ser.

Trago nas mãos o amoroso desvario de aprazíveis

oferendas.

Caminho entre canteiros de flores e ásperos aromas.

Onde quer que eu vá, persegue-me uma paz que não sinto.

O coração não mente, mas se engana.

Enamorar-se de viver é meu lema, em disputas

patéticas com o tempo.

Não se iluda, a maturidade tudo subtrai.

Você mente tão gostosamente que até acredito.

Principalmente quando diz "amo sua pica".

Palavras não contam no enleio amoroso.

Meus calhamaços de sabedoria não se comparam

a teu repertório de artimanhas.

A velhice e a doença desconhecem a vergonha, quando

desprovidos de dignidade.

Tudo o que de melhor temos, não vemos.

Os degraus de ontem remontam a sonhos desfeitos, safadezas

gozos estéreis.

A cobiça é o maior dos males, mas há atenuantes.

Mágoas sem propósito vão-se pelo ralo da autoestima.

A vida cabotina tece desmemórias, para que a alma

mais obscura

possa brilhar na escuridão.





domingo, 29 de setembro de 2024


                        é o que há





A vida esmorece de ser em alegorias evanescentes.  

Reabrindo feridas, repetindo a sanha das desavenças, 

crivada de começos e recomeços 

de rubras florações. 

A luz dos conflitos alumia as sagas hereditárias.

Crucial é a desmemória.

Crucial é a demência da vitória.

As sangrentas batalhas se resolvem à revelia 

dos respectivos fins.

A humana humanidade se deleita em abismos inocentes.

Ao negar-se a esperança, os temores ameaçam

a calma transitória.

A vida feita de resignar-se é o que há.

Quebrando-se para resistir.

Renascendo para sobreviver.



sábado, 21 de setembro de 2024

                             em casa




eu em casa

e a vida passando,

lá fora. 


eu em casa

e o mundo pulsando,

lá fora.


eu em casa

e a galera indo e vindo 

se virando

se divertindo

se consumindo

vegetando,

lá fora.


Carros circulando

sirenes soando

o lixo se acumulando

as pessoas se hostilizando

golpistas, psicopatas, facínoras

tomando conta de tudo

e eu em casa

ouvindo 

os Souvenirs de Chopin, por Lotaro Fukuma.





 


                    

                    o troféu





Abençoado ou vilipendiado, o amor cumpre 

sua tarefa com louvor.

Aventura-se por vielas e becos, consumindo-se 

entre o deleite e o desencanto. 

Escreve a sagração de seus desígnios expondo-se à insânia

das misérias terrestres.

Voraz, o apelo da carne impele a plenitude dos desejos.

Ao situar-se entre o desvario e o desencanto,

o relapso amor agoniza em seu pedacinho de céu. 

Fraqueja, sucumbe à tentação. 

A renúncia é o preço do troféu.   



  


                     o sono das nulidades



Saúdo o breve instante de ser feliz.

Em meio a rotina que fustiga ossos e querelas,

o trâmite das coisas fungíveis expele sonhos e fezes.

A realidade desterra a voragem das sementes heróicas. 

A raiva de hoje se funde em pletoras perfunctórias, para que

a senilidade obsidie a obsessão dos espelhos.

O instante de ser feliz vilipendia dignidades, mas 

o que importa ?

Viver é um engano extorquido por exércitos de rameiras.

O assombro que permanece respira ares esfaimados.

A preamar das hostilidades esquiva-se dos cadafalsos,

enquanto as carpideiras traçam rotas trágicas.

Sevícias asquerosas repelem os maus presságios.

O êxtase dos punhais embute megalomanias necrosadas,

ante o absurdo que permeia o absoluto.

Há que despertar do sono das nulidades.

O instante de ser feliz não espera.




                             enredo sem nexo



Enredo sem nexo, o processo imerso 

no progresso 

tropeça, trapaceia, tergiversa.

Sacode a poeira, morde a própria boca,

esbanja, mendiga,

e depois se suicida.


Enredo controverso (do inferno egresso ?),

amanhece e anoitece

respirando poeira e fuligem,

dormindo nas calçadas,

profanando os altares,

regressa ao começo

onde o batismo e a extrema unção confabulam.



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                            de mal à pior Dissoluto, o mundo reinventa o seu inferno entre pressurosos prenúncios. As coisas presumidas foge...