segunda-feira, 14 de julho de 2025


            sempre que me perdi           

            


Sempre que me perdi,

tive a sorte de me reencontrar.

E para cada coisa que perdi,

veio outra em seu lugar.


Vi a mocidade passar

como se nunca fosse acabar.

Vieram as perdas, as desilusões.

E uma nova vida emergiu da maturidade.

Iluminada pela beleza da solidão.


Nada tenho a lamentar ou reclamar.

Entre o que fui e o que sou, renasci

como um náufrago resgatado 

no rebojo dos dias.

O tempo mudou de rosto.

Já não é de mel o seu gosto.


Se no presente tudo se desfez,

nem por isso sofro ou sou infeliz.

Meu destino segue contrapondo-se

ao inesperado.

Mesmo diante dos paradoxos, experimento

uma felicidade nova,

ainda não inventada.


Sempre que me perdi, 

tive a sorte de me reencontrar.

E para cada coisa que perdi,

veio outra em seu lugar.






 




 





domingo, 13 de julho de 2025


                       meu canto



Sou como um viajante que se perdeu 

ao longo do tempo. 

A espera do que não veio.

Os sonhos de barro, quebrados.

Despreparado para as falsetas da vida.


Sou o que restou de mim.

Uma fração do que era para ter sido.

Mas de raízes profundas, adubadas

por um coração generoso.

Subsistindo na pátria em que nunca deixei

de ser menino.


O que eu levo da vida é a magia

dos momentos que pareciam eternos.

A lenta juventude, a falsa impressão de que

o amor nunca me trairia. 


Na vida de sonhos desfeitos e lamentos,

meu canto é meu unguento.

Sob o luzeiro de quem finda a cada passo, 

canto os frutos alcançados, 

os anos plenos e dourados.

Canto a vida partida e repartida. 

E tudo mais que foi doçura e mentira.








                      as garotas do job


 

Ela não faz nada na vida, além de se arrumar,

cuidar do corpo, 

circular pelas redes sociais.

Optou pelo caminho mais fácil.

Posta vídeos provocativos.

Quanto mais exposição, melhor.

Tampouco dá ouvidos aos termos pejorativos

sobre seu love profile. 


O job está na moda, repaginado.

Ganhou status.

Já não é só um meio de sobrevivência.

Para que ralar, trabalhar de sol a sol,

estudar anos a fio,

se é possível subir de vida sem fazer

outra coisa além de mostrar o corpo,

abrir as pernas ?


Pois é o que é.

É como é.

Faz quem quer, e há cada vez mais

quem queira.

E que ninguém  ouse julgar.

As garotas do job não fazem mal a ninguém,

muito pelo contrário.

São um bálsamo para as agruras da vida.

Não oferecerem riscos, não decepcionam.

O único perigo é se apaixonar.











quinta-feira, 10 de julho de 2025



                           a felicidade inventada





Já não sei mais como transpor

as barreiras festejantes 

que transformam o coração

num bobo da corte.


A juventude, fonte de calorosos desejos,

ri furtivamente da nossa cara.

Nesses tempos profanos, não adianta dizer

eu te amo.

Só os tolos acreditam.

A ilusória felicidade é cúmplice de muitos abraços.


O meu amor é de pouca validade.

Pois nada é como já foi.

O muito hoje é pouco.

Na carestia dos sentimentos, não basta o dinheiro,

mansões, carrões.

O vazio existencial é o grande flagelo

da modernidade.


Nas franjas do tempo, o magnífico mundo

já não distingue gozo, orgias, putas.

As antigos valores escorrem pelas sarjetas imundas,

quase extintos, como o pau-Brasil.


Socorro-me de mim mesmo filtrando minha

dúbia consciência.

Sem saber em quem acreditar, em quem confiar.

Revisando as emoções, aposentando as enferrujadas utopias.

Em busca de uma felicidade nova,

ainda a ser, modernamente, inventada.









quarta-feira, 9 de julho de 2025


                    até a última gota





Não faço mais planos.

Não crio expectativas.

Não acredito mais em promessas.

Em palavras gastas.

Sorrisos póstumos.


As máscaras não me enganam mais.

Tampouco faço questão de agradar a mais ninguém.

Dispenso reciprocidade.

Estou farto de hipocrisia e falsidade.

É tempo de resgatar meu ser, abandonado e livre,

do vazio das relações desgastadas.


Se é preciso renunciar para seguir em frente,

beberei alegremente até a última gota desse cálice.

Sem mágoa, sem ressentimento.

Apenas e tão somente para que o amor transcenda 

sua própria finitude.

Não almejo mais nada que não esteja

a meu alcance.

O fim de tudo chega exato e só, como deve ser.

Breve, não serei mais que uma vaga lembranças

em meio a impermanência das coisas.

E serei louvado como nunca fui.









                                 CORAÇÃO QUEBRADO




 



Você pode me pisar

como um tapete. 


Você pode me ter

como um enfeite.


Você pode me usar

como um sabonete.


Você pode me chupar

como um sorvete.


Você pode me machucar

como um canivete.


Você pode me manipular

como um marionete.


Você pode me comer

como um chocolate.


Você pode me comprar

com um boquete.


Você pode pintar o sete,

e até me mandar para o cacete.

Sei que no seu jogo maroto

não passo de um mero joguete.


Um coração quebrado 

é assim.

Finge que não vê, 

esquece o que escutou,

faz concessões demais.

Não se acha merecedor de coisa melhor.

Não se importa de bancar o otário. 

A carência cria afetos imaginários.










                     nada mais insano



Nada mais tolo do que acreditar no amor 

de quem não demonstra.

Confiar no amor de quem sequer se esforça.

O que pode ser mais insensato, insano, do que acreditar

cegamente em algo que não inspira confiança ?

No entanto, é o que mais acontece.

Porque o amor não é como imaginamos.

Dificilmente é como idealizamos.

Passada a febre da paixão, os defeitos, os podres

vem à tona.

Mas aí o estrago já está feito.

E daí o corriqueiro e deprimente desfecho. 

A mágoa, o rancor se sobrepondo a tudo.  


Pois poucos estão preparados para vivenciar

algo mais profundo.

Saber se amoldar às situações e mudanças,

e encontrar forças para não deixar o amor

se degradar. 


 







 




 

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