quarta-feira, 23 de julho de 2025


                     antigos rastros



Ando em passos lentos, sobre antigos rastros.

Vendo as coisas se perdendo aos poucos.

Sinto o peso morto da vida

tateando

o imperturbável sono das estrelas.


Tudo me leva a ti, como uma miragem

que retorna ao lugar de onde nunca 

deveria ter saído.

Vens de longe, de tão longe que já nem lembro

como és.

Por mim, nunca teria findo o amor que nunca tivemos.

Por que depois de tê-lo, foi só uma questão de tempo

para perdê-lo.


Tão breve como veio, o amor partiu.

Revirando sentimentos, acordando emoções,

despertando desejos.

Decepção, rejeição, é tudo que deixou.


Ando em passos lentos, sobre antigos rastros.

Vendo as coisas se perdendo aos poucos.

Entre o que fui e o que sou,

a memória persiste para não cair

novamente

na armadilha do amor.








terça-feira, 22 de julho de 2025


                        a doçura da espera



Em vão esperei por um amor verdadeiro.

Que chegasse para ficar.

Um amor que nada pede e tudo dá.

Forjado na doçura da espera.

Lindo e lírico.

Constante e inabalável. 


Em vão esperei por um amor generoso

em afetos e orgasmos.

Amor de mil e uma faces, que se redescobre 

todos os dias.

Capaz de superar-se a cada desafio.

Revigorado na metamorfose do seu próprio ser.


Em vão esperei por um amor que me fizesse

acreditar no amor.



domingo, 20 de julho de 2025


                o sempre e o nunca



Não precisa me dizer mais nada.

O teu silêncio diz tudo. 

O sempre e o nunca se igualam na nossa história.

Quis muito de quem tem muito pouco a dar.

Nada além de um contentamento descontente.

Razão da minha alegria fugidia.


O que você é hoje se perdeu como fogo 

que se consome.

Meu amor já nada pede, porque nada tens a dar.

Nada que não possa encontrar na cama de uma puta qualquer.

Já não preciso sequer do teu sorriso que tanto

me encantava.

Desfez-se a magia que nunca houve.

Como uma flor que se desprende sozinha do galho.

O sempre e o nunca se abraçam e dormem, sem passado

nem futuro.

Nosso amor morreu sem ter nascido.






terça-feira, 15 de julho de 2025


                     em priscas eras





Era lindo o amor em priscas eras.

De quando o coração batia acelerado.

Ansiava por um telefonema.

Se encantava com bobagens literárias.

Sentia ciúme, raiva, ardia de paixão.

De perder a fome, roer as unhas, sonhar acordado.


Era lindo o amor em priscas eras.

De namorar na sala, com a "vela" ao lado.

Dançar de rosto colado, fazer cafuné

no escurinho do cinema.

De descobrir coisas juntos.

Casar virgem...


Era lindo o amor em priscas eras.

Quem viveu, sabe.

Não esquece.

Em nada se parece com a baixaria

de hoje em dia.

Ao amor de priscas eras, 

minha homenagem póstuma.





segunda-feira, 14 de julho de 2025


                     o pedestal do tempo


O pedestal do tempo ajusta o painel da memória.

Entrelaçando manhãs bordadas de sóis anacrônicos.

Subvertendo tardes macias e sorrisos lacônicos.

É sempre o indizível que limpa os olhos

de quem não vê.

A luz das trevas desperta abismos que não dormem.

Nas tramas perduráveis, o assombro de ter sido

empreende novas jornadas,

em que o caos do altruísmo acovarda-se perante 

o sofrimento do mundo.

O profundo envenena a certeza insatisfeita.

O que existe, não existe, sempre que incompleto e 

ainda não amanhecido.

Aqui e ali, a exaltação incoerente precede a violência.

Tímpanos cansados ignoram o brado dos suicidas.

O ideal corrompe-se à toa.

O irreal degenera a linha do tempo, escalavrando

palavras fleumáticas.

Olho por dente

                                  perfuram rins de chumbo.

Dente por olho

Genuflexo, modela-se as nádegas.

Fundo e sem nexo, o raciocínio ala-se

em epifanias depravadas.

O velho regozijo é melhor do que nenhum.

Quando a confusão chega no túmulo, tampa-se

o caixão. 

E acoberte-se os escândalos. 

Estamos entendidos ?







            sempre que me perdi           

            


Sempre que me perdi,

tive a sorte de me reencontrar.

E para cada coisa que perdi,

veio outra em seu lugar.


Vi a mocidade passar

como se nunca fosse acabar.

Vieram as perdas, as desilusões.

E uma nova vida emergiu da maturidade.

Iluminada pela beleza da solidão.


Nada tenho a lamentar ou reclamar.

Entre o que fui e o que sou, renasci

como um náufrago resgatado 

no rebojo dos dias.

O tempo mudou de rosto.

Já não é de mel o seu gosto.


Se no presente tudo se desfez,

nem por isso sofro ou sou infeliz.

Meu destino segue contrapondo-se

ao inesperado.

Mesmo diante dos paradoxos, experimento

uma felicidade nova,

ainda não inventada.


Sempre que me perdi, 

tive a sorte de me reencontrar.

E para cada coisa que perdi,

veio outra em seu lugar.






 




 





domingo, 13 de julho de 2025


                       meu canto



Sou como um viajante que se perdeu 

ao longo do tempo. 

A espera do que não veio.

Os sonhos de barro, quebrados.

Despreparado para as falsetas da vida.


Sou o que restou de mim.

Uma fração do que era para ter sido.

Mas de raízes profundas, adubadas

por um coração generoso.

Subsistindo na pátria em que nunca deixei

de ser menino.


O que eu levo da vida é a magia

dos momentos que pareciam eternos.

A lenta juventude, a falsa impressão de que

o amor nunca me trairia. 


Na vida de sonhos desfeitos e lamentos,

meu canto é meu unguento.

Sob o luzeiro de quem finda a cada passo, 

canto os frutos alcançados, 

os anos plenos e dourados.

Canto a vida partida e repartida. 

E tudo mais que foi doçura e mentira.







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