quinta-feira, 11 de abril de 2024




                 a nova ordem


 

Aqui e em todo lugar, 

a vida que é só sortilégio e alegoria

chafurda em pequenos apocalipses,

maquiada de pseudoverdades.

O inventário dos sentimentos remonta a obituário.

Editado e incompleto.

Expressamente gótico e atemporal.

Uma nova ordem emerge do mundanismo mosqueado,

revisando as emoções, 

borrifadas de ardis patológicos.

Nada se retém que não seja palpável.

Mentes laboriosas somatizam a incúria coletiva.

Preservo meus erros sobre o lento escoar dos significados.

O peso eterno do mundo sucumbe ante o aprendizado

deformado, impregnado de valores abstratos.

O homem brinca de deussob a algidez feérica

dos algoritmos. 

Na carência dos sentimentos, amar e desamar é só

uma questão de vontade.

Para tudo há reposição.

Basta ter dinheiro.







 









domingo, 7 de abril de 2024




                     lá vem o sol





Lá vem o sol

Enfeitado de amarelo

Expulsando a escuridão

Iluminando quintais

Despertando os brejos

Fecundando as plantas, as flores

Germinando a vida.


Lá vem o sol

Repartindo a beleza

Respirando sobre os oceanos

As florestas

Pousando sobre os cumes

Aquecendo as tardes meigas

Pairando sobre as nuvens.


Lá vem o sol

Debruçando-se sobre o horizonte

Entrando pelas janelas

Esparramando-se pelo chão

Reinando sobre o céu e a terra

Hoje e eternamente. 








                               never say never





 



nunca mais joguei bola, o quadril não deixa.

nunca mais chupei cana, mas assoviar ainda consigo.

nunca mais beijei a Ana, casou e está cheia de filhos.

nunca mais amanheci na farra, nem nunca gostei.

nunca mais vi o sol nascer na praia, mas tudo bem,  

prefiro o entardecer.

nunca mais pesquei no Jacuí, sem meu saudoso pai 

não teria graça.

nunca mais tomei banho de arroio, difícil achar um

que não esteja poluído.

perdi de vista meus melhores amigos.

nunca mais estive onde nasci, há um lado em mim 

que já morreu.

nunca mais chutei um gato nem matei passarinho

de bodoque,

mas ainda colho fruta no pé no sítio do sogro.  

nunca mais me apaixonei

nem comi uma virgem

mas chorar de alegria bem que eu queria.

never say never está sempre nos assombrando.



 


                                                          amar é...





O amor humaniza

O amor inferniza


O amor arrebata

O amor maltrata


O amor se agiganta

O amor se avilta


O amor transforma

O amor transtorna


O amor inspira

O amor sufoca


O amor machuca

O amor cura


Amor, ah, o amor.

Quando não acaba,

acaba com a gente. 





sábado, 6 de abril de 2024



                 amor em tempos modernos





Os tempos modernos rompem barreiras,

desmontam antigas fachadas.

Exalam esplendor e vulgaridade, 

enquanto se diluem na brevidade.


Mulheres de bundas perfeitas atiçam 

a imaginação.

É tempo de dar folga ao coração.

Conter os sentimentos. 

Não vá ser burro de se apaixonar.

Acostume-se ao descartável.

Deixe de confissões patéticas, ninguém liga 

para seu chororô amoroso. 

Ignore certas coisas. Chifre está na moda.


Em tempos profanos, a consciência proíbe e liberta.

Imaginação a serviço da fantasia.

Possuindo e despossuindo, o atavismo monacal e sublime,

modernamente, tudo corrompe.


Percorro meu prosaico itinerário

escrevendo poesias de amor 

num mundo pervertido.


  















                   identidade





Pouco importa a miséria, as guerras, 

as desavenças cotidianas.

Tudo é como sempre foi.

Nada faz diferença ante os elementos invioláveis

da Criação profanada.

Não perca tempo tentando entender.

O mundo não tem sentido, não é para ser entendido.

Na letargia de cada dia, juízos deturpados 

confundem o aprendizado.

Parta do princípio de que tudo se encere 

na realidade de cada um.

No sono rancoroso do tempo, uma dor sem nome

perfura o puro, o heroico, o bem intencionado.

No entanto, sempre é possível moldar 

o curso das coisas, contrapondo-se ao inesperado,

construindo reflexões maduras.

Deixando tudo para trás, se necessário.

Família, amigos, afetos, tudo o que tolhe e oprime.

A busca da própria identidade começa pelo fim.





 







  






                     a nova velha vida





Novos dias virão.

Novos e velhos enigmas.

Conhecerás pessoas, beijarás outras bocas.

Oportunidades surgirão.

Novos e velhos equívocos.

Amarás quem não deve.

Esperarás pelo que não vêm.

Alegrias e tristezas coexistindo.

Alimentarás sonhos e desejos.

A realidade sempre deixando a desejar.

A nova velha vida prima por ser repetitiva.


  




  

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