quarta-feira, 31 de outubro de 2018




onde tudo começa e termina




Tudo é sexo, sexo é tudo.
Onde tudo começa e tudo termina. 
No começo, o desejo incontrolável e compulsivo,
tesão à flor da pele.
No fim, o desinteresse, o conformismo, 
o adultério.
O poder da mulher está entre as pernas.
O poder da sedução, de fazer subalternos,
de gerar filhos.
Ao inigualável poder da vagina 
os homens se curvam.
Grandes homens se apaixonam, enlouquecem.
Indefesos, vulneráveis se tornam.
De bom grado se apequenam
por favores sexuais que entorpecem,
da realidade os distrai.
Da virtude os afastam, tal qual 
Eva fez com Adão
quando expulsos do Paraíso.

Ah, o sexo, sublime, inebriante.
Ao qual nos entregamos sem pensar,
sem medir as consequências.
Do paraíso à perdição, num instante.
Tudo em jogo por instantes.
Momentos de poder, submissão, 
prazer e castigo lado à lado.
Sexo bom e sexo ruim, 
que tudo de bom e ruim representa e traz.
Do matrimônio à traição, se desfaz.
Mais forte que o amor.
Mais forte que a razão.
Ao instinto incontrolável atados,
"como o prisioneiro ao seu grilhão." *


*As Flores do Mal/Baudelaire.


  

segunda-feira, 29 de outubro de 2018


           
                  
                   o gosto das coisas


Ah, o gosto das coisas nunca experimentadas,
que gosto terão ?
O beijo nunca dado?
O beijo que nunca mais será dado,
ainda terá o mesmo gosto ?
O abraço do filho ausente
O gozo do amor que se foi
Gosto de desgosto e saudade, até quando ?   

Terão as coisas vindouras o mesmo gosto 
das coisas que se foram ?
E as coisas que foram, sem nunca terem sido
que gosto terão quando acontecerem ?
O mesmo gosto, o mesmo sabor terão ?
Que gosto terão os amores futuros ?
As dores e dissabores ainda doerão
como um dia doeram ?

Seja como for, nada mais me importa. 
O que passou, é passado.
Há vida pela frente e o tempo urge, inclemente.
Que sobrevenha o céu ou o inferno. 
Colher a fruta derradeira antes que apodreça.
Que a velhice chegue
e as doenças e a decrepitude tudo roubem.
Levando o gosto de todas as coisas
Vivenciadas ou não.

Assim, quando de tudo eu me tornar ausente
E tudo chegar a seu termo
Possa, sem remorso e rancor,
Saborear o gosto álacre de tudo que vivi.





      

Albert King - The Very Thought Of You (1978)


                             


                               respostas



Não bastasse o tormento de te perder,
o desgosto de viver sem ti,
sofro ainda mais por saber 
que de mim já esquecestes.
Que de mim não quer saber,
nem por perto quer me ver.

Fico pensando no que tens feito.
O que te fez mudar tanto.
O que fez com as lembranças de nós dois,
para mim inesquecíveis.
A ferro e fogo marcados em minh´alma.

Ciente de que não têm mais volta,
que tudo acabou definitivamente,
uma resposta, o por quê, 
é só o que eu precisava saber. 
Por caridade, para aliviar minha culpa.
Com requintes de crueldade, 
se há outro na história...





domingo, 28 de outubro de 2018

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

                
                             a segunda chance




Sob o espectro difuso da verdade, transigimos.
Bem ou mal, à realidade nua e crua nos adequamos.
Para não capitular, indiferentemente à valores

e princípios.
Valores e princípios nem sempre edificantes,
quando se trata de sobrevivência,
de fazer valer a vontade, os desejos secretos.

Na ordem natural das coisas, a lei do mais forte prevalece.
Sob os mais diversos métodos e artifícios.
Contra a força, a astúcia.
A força do homem, a astúcia da mulher.
Quem a presa, o predador ?
(Ela me disse que, enquanto eu estava indo,
ela já tinha ido e voltado três vezes...
Quantas coisas omitidas, ardilosamente
escamoteadas, aí embutidas ?)
Sutil teia de aranha em que nos enredamos...

Não há inocência na vida adulta.
Na impermanência das coisas, o destino
molda nosso caminho.
O que se ganha aqui, perde-se ali.
Sem rumo, sem prumo frequentemente nos vemos.
No desdobramento do amor, cedo ou tarde
padecemos, quebramos a cara.
Não raro, sucumbimos.
Nada nos redime.
Nada apaga os malfeitos, os danos causados.
Perdão foi feito para pedir, mas os remendos 
nem sempre surtem efeito.
O que está feito, não tem volta.
E quando se tem uma segunda chance, nunca 
é a mesma coisa.

Amor só é amor - e como tal sobrevive -
quando ambos reconhecem que são imperfeitos.
Que todos erram e tem sua parcela de culpa.
É só o que permite juntar os cacos e seguir em frente.
É o que impede que a tal segunda chance 
não seja apenas um mero e triste epílogo.
Por mais bela que tenha sido a história..




  










Acredite quem quiser, 
porque mesmo eu acho 
difícil de acreditar,
mas hoje de manhã,
bem cedinho,
um bentivi pousou na minha 
varanda
e juro que ouvi ele cantar :
vim-ti-ver, vim-ti-ver...


quinta-feira, 25 de outubro de 2018


                                     SER FELIZ






Ser feliz, tarefa inglória.
Talvez por não nos darmos conta
de quão felizes somos
por termos o básico.
Por termos o essencial.
Às vezes nem isso.
Paz de espírito...





                     o prazer de voar




Ser : o quanto nos basta ?
Nunca nos bastamos.

Nunca bastamos.
A possibilidade de viver proclama
sempre, mais e mais : infâmia.

Mesmo vós, que admirei sempre
em minha vida,
no brilho opaco do olhar triste
não vos reconheço.
Quem quer que sejas, de ti me compadeço.
Por não ser o que julguei que fosse.

Ser : apenas isso. 
Apenas viver.
Não se deixar levar, as rédeas tomar.
Procurar, não a ilusória felicidade,
mas a clareza de ideias.
O prazer de voar.




terça-feira, 23 de outubro de 2018

              
               o caminho das pedras





O caminho das pedras é íngreme.
Os percalços nunca acabam.
O destino do homem é o trabalho contínuo.
Quase sempre insuficiente.
Em vão é o esforço para satisfazer 
às expectativas alheias.

O caminho das pedras é sinuoso.
Nem todo conhecimento torna a jornada mais leve.
A sabedoria se perde em situações comezinhas.
Ideais, dignidade, se curvam às necessidades básicas.
Já me disseram : de que adianta tanta leitura,
tanta reflexão, se a sabedoria sempre deixa a desejar ?
Para os que não entendem, para os que tem 
suas próprias verdades, 
as verdades alheias passam ao largo


A discórdia permeia o caminho.
A jornada é árdua, a escalada não tem fim.
O juízo final tarda mas não falha.
Por nossas ações haveremos de prestar contas.
Não no céu, ou no inferno, mas aqui mesmo.
Lento ou sumário, cada qual com seu veredicto,
sob o crivo de deuses cruéis e compassivos.

Que entre enganos e infâmias possamos 
ouvir a voz da razão.
Para que, alheios a crenças infundadas, 
recobremos o caminho do bem.
O caminho das pedras... 





segunda-feira, 22 de outubro de 2018


                 
                 smart ex-machina phone





este pequeno objeto retangular
achatado, espelhado, multicolorido
que nove entre dez pessoas trazem à mão
no bolso, em bolsas, mas sempre à mão
do qual ninguém consegue abrir mão
que põe o mundo à palma da mão
de repente, tomou conta de nós
de repente, nos colocou de joelhos
como objeto numer one de desejo
como a divindade do momento
o Olimpo já não é mais aquele...

os deuses do momento atendem 
por vários nomes
Samsung, Motorola, Apple...
filhos diletos do deus ex machina phone, o Zeus 
que reina sob nossas vidas
que se apossou de nosso tempo
de nossa atenção.

nunca se teve tantos amigos...virtuais
nunca se teve tanta facilidade para tudo
...de certo e de errado
as pessoas mal se olham
as pessoas mal conversam
os casais se distanciam
o diabo está deitando e rolando
pornografia, pedofilia, adultério
nunca estiveram tão em voga.
nunca foi tão fácil pular a cerca, prevaricar.

ah, o deus Smartphone,
que nossas vidas arrebatou.
que de nossas vidas tudo sabe,
em cuja telinha nossas vidas 
incautamente escancaramos.
sob os olhares atentos e gulosos 
dos Grandes Irmãos, Google, Facebook,
Instagram. 







                         
                          that´s my way



Sim, eu me dilacero à toa.
Me emociono à toa, como o doce 
vagabundo Carlitos,
com coisas que outros podem achar 
irrelevantes e até piegas.
Não faz mal, quero ser sempre eu,
independente do que pensem de mim.
Quero ser sempre assim, sentimental, piegas...
Sentir saudades das coisas que tive,
das coisas boas que vivi,
que foram muitas, e que faço questão de guardar 
no coração generoso.

Yes, eu choro à toa.
De saudades me remoo, não só com lembranças
que transbordam em momentos improváveis,
alguma música que marcou
ou um simples guardado,
por acaso achado,
que o tempo amarelou 
mas não apagou da memória.
Choro a dor dos desamparados,
dos injustiçados.
Choro por mim, pelo que perdi.
Lágrimas de gratidão pelo que tenho.

Choro, sim, mas não por fraqueza, pois eu envergo 
mas não quebro.
Sou duro na queda, não sei ser saco de pancada.
Quem me conhece sabe que não levo 
desaforo para casa.
Gostem ou não, não vou mudar.
Ainda que na solidão cave meu caminho.

Como diz o clássico do grande Sinatra,
that´s my way...



domingo, 21 de outubro de 2018


            ARARIBÓIA

Rezam os compêndios que para homenagear o velho herói Araribóia, guerreiro nativo que marcou época nos primitivos tempos da colonização, o governador D. Antonio Salema chamou-o à corte do Rio de Janeiro para suntuoso jantar.
Consta que em dado momento, cansado da posição cerimoniosa
recomendada à ocasião, encarapita-se na cadeira o velho índio,
para estranheza do governador.
Homem rigoroso em questões de etiqueta, ordena através de um serviçal para que ele se recomponha, em respeito ao representante do Rei. 
"Se tu souberas quão cansadas eu tenho as pernas das guerras em que servi a seu rei, não ligaria para esse pequeno descanso.
Mas já que se sentis ofendido, retiro-me para minha humilde aldeia, onde não reparamos para tais formalidades.  E fique descansado que não virei mais à sua corte afrontá-lo", mais ou menos assim teria reagido o velho guerreiro, retirando-se em meio a cerimônia.

É o que a História registra de um brasileiro nato e honrado,
chefe da tribo Temininós, que nos idos de 1575, foi o responsável direto pela expulsão dos franceses da baía da Guanabara, séculos mais tarde saqueada por Sérgio Cabral e companhia.  
Mal sabia da bobagem que estava fazendo...




     
                 os incomodados, fodam-se



Quase nada é do jeito que a gente quer.
Do jeito que a gente pensa.
Do jeito que a gente sonha.
Tudo gira em torno das aparências.
A falsidade é um imperativo.
A hipocrisia, obrigatória.
A mentira, a palavra de ordem.

Não tardamos a descobrir que ser correto
é um tiro no pé.
Que ser justo não vale nada.
Que consciência tranquila não enche a barriga.
No entanto, por formação ou obrigação,
é preciso ser correto, ser justo, fazer a coisa certa.
É uma questão de decência.
O que poucos têm.

Mais fácil é fingir, dissimular.
Se esgueirar pelas sombras.
Falar pelas costas.
Fazer por baixo dos panos.
Eis o padrão dominante.
Engana-se, mente-se, falseia-se com tanta
naturalidade, que tudo 
passa a ser natural.
Viver na mentira.
Enganar a si próprio.
Simplesmente, suprime-se a consciência
E ponto final. 
Os prejudicados, às favas
Os incomodados, fodam-se...



sábado, 20 de outubro de 2018



                              A LEI DA VIDA





Aqui se faz, aqui se paga
É a lei da vida
Nada acontece por acaso
Você que engana, fere, finge ser 
o que não é
Não perde por esperar
Um dia da caça, outro do caçador
Ninguém é melhor do que ninguém
Até ser posto à prova
Até a sorte virar
Até as coisas degringolarem
Isto quando tudo já não foi sempre uma merda

Portanto, não aponte o dedo para ninguém
Não julgue, não condene
Não atire a primeira pedra
Pois amanhã ou depois pode sobrar para você
Não seja a palmatória do mundo
Tendo culpa no cartório
A burrice não releva o passo em falso
A teimosia não justifica a injustiça.
Quem com ferro fere...



sexta-feira, 19 de outubro de 2018

                 as putas




basicamente, as coisas hoje estão assim :
há as putas, putas
há as putas enrustidas 
há as putas de fachada, de grife
há as que desdenham das putas 
mas agem como tal
há as que gostariam de ser mas não tem coragem
no fim das contas, 
tudo é uma questão de preço.






domingo, 14 de outubro de 2018




irmã gêmea da justiça 
a verdade também tarda mas não falha
um dia a casa desaba
a máscara cai
e os verdadeiros farsantes mostram a cara...




sexta-feira, 12 de outubro de 2018

segunda-feira, 8 de outubro de 2018


           PAIXÃO QUE NÃO VINGOU


Num lapso, a vida acaba
Extinta em plena vida
Ao se perder a razão de viver
Quando não há mais vontade
Não há mais tempo
Para reparar o que se perdeu

Foi-se, simplesmente
O que parecia não ter fim
Não ter data de validade
Mas que, de tantos desencontros e desenganos
Como tudo na vida
A seu termo chegou
No desamor que de tudo se apossou 
Diluído em doses homeopáticas
Sem motivos aparentes
A não ser os de sempre
Graves ou insignificantes
Pouco importa
Não havendo mais nada
Pelo que valha a pena lutar

Súbito, não nos reconhecemos mais
Nada do que tivemos tem valor
Triste fim do que um dia
Nos levou a tantas loucuras
A tantas juras, que hoje soam ridículas
Que hoje não passam de lembranças amargas
De uma paixão que não vingou.










sábado, 6 de outubro de 2018

                                        verdade







só a verdade liberta
fustiga, castiga
mas depura, eventualmente nos redime
pedra rara, como pedra bruta se lapida
para poucos se revela
para poucos importa
cada qual com suas verdades
que brilham feito ouro de tolo...

só a verdade liberta
transgride, mitiga
mas transcende, eventualmente nos surpreende
para poucos faz diferença
para poucos interessa
cada qual com seus interesses
que pairam acima de tudo...

só a verdade liberta
transforma, transgride
mas convulsiona, eventualmente revoluciona
para poucos faz falta
para poucos traz paz
cada qual com suas mazelas
que convém escamotear

só a verdade liberta
enobrece, conforta
mas frustra, eventualmente embrutece 
pois poucos entendem
poucos valorizam
cada qual com seu fardo
que a verdade torna ainda mais pesado



sexta-feira, 5 de outubro de 2018


Transcorridos quase três anos, eis que por acaso hoje cruzo com meu filho Allan, num shopping da cidade, e em menos de um minuto, não mais que isso, esclarecemos o mal-entendido que nos levou a todo esse tempo de separação.
O que a estupidez e o orgulho fazem com a gente... 
Bem-vindo de volta, meu filho !




P.S. Mais doloroso ainda é descobrir que tudo foi causado por intriga de uma certa pessoa, que eu tanto prezava...

segunda-feira, 1 de outubro de 2018




        

De repente, não mais que de repente, você não vai mais
servir para aquela pessoa
O que você é, o que você foi, o que você fez,
não importa mais.

Nada mais importa.
Já foi.
Já era.
E não queira entender por quê.
Não há um por quê.
Simplesmente, o tempo se esgotou.
O ciclo fechou.
Pense que as coisas foram acumulando
como sedimentos.
Até a exaustão.
Até a ruptura.
Num dia qualquer, a propósito de nada,
apenas e tão somente é aquele momento 
em que o dique se rompe.
O tsunami chega.
Enquanto o sol brilha e tudo parece calmo.
E tudo engole.
Não queira entender.
Apenas aceite.
Pense que a vida segue
e tudo se regenera.
Não se revolte, e por mais difícil que seja
entenda que evoluir requer aprendizado.
Que aprender implica em errar.
Se deu certo, beleza !
Se não deu, mas aprendeu, perfeito também !
Ponha ainda mais amor no que faz.
Mais sorrisos.
Mais verdades.

Não se desespere, não se precipite.
Recomece, sem forçar a barra.
Tudo no seu tempo.
A hora certa vai chegar.
Para um novo ciclo recomeçar.


  

Postagem em destaque

                            a noite eterna a noite eterna chega devagar a vida passa devagar até tudo passar e você de repente acordar sozin...