sábado, 21 de março de 2020
pandemia
Em cada instante a vida é diferente.
O tempo de saber que somos absolutamente
impotentes, sempre chega.
Há sempre imprevistos
de força maior.
Sentimentos deterioram, relações desgarram.
Um reles e sorrateiro vírus põe o mundo
de joelhos.
Qualquer tempo é tempo de tudo se subverter.
Dilemas existenciais, desilusões amorosas,
preocupações comezinhas,
de repente perdem o sentido
diante do elementar desafio da subsistência.
Na supressão do básico, saúde, trabalho,
ter o que comer,
todo o resto se torna secundário.
Grandes lições embute a anunciada pandemia.
Sobretudo, que nada nos pertence.
Tudo nos é temporariamente delegado.
E subtraído sem aviso prévio.
Do nada advém a hora amarga.
No querer abraçar as coisas,
a inútil compreensão de quem se sabe
impotente.
Mutilado pela vida.
No fugaz prazer e no perene abandono,
o desejo de explicar, de entender
a constante fuga.
A existência sem nexo,
amada e repelida.
A tardia consciência de que
só a compaixão nos salva.
Não nos pode faltar.
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