a dívida
Amanhece limpo o dia lavado pela chuva.
Como deve ter sido quando Ulisses voltou para sua
Penélope intocada.
Santa Penélope ! Padroeira (madroeira ?) das mulheres fiéis.
Perorações gentis intercedem por nós.
Não é preciso ser Hércules para carregar o peso do mundo.
A faca como parábola de vida, como nos tempos das ciladas
frias e cálidas.
Fogueiras lúdicas, vulvas fulvas em especulações fálicas.
A verdade de cada um morre quando a noite desmaia.
Na desagregação dos sentimentos, a náusea da podridão
do mundo.
Uma ponte, uma rosa, cristais intocados, laranjais quiméricos :
aqui jaz a fábula perfeita.
O cansaço acende os archotes dos vieses inexplorados.
Um lamento sombrio apaga a noite.
Feridas que se curam com pranto rompem os mistérios.
A noite perpétua, a alma balsâmica, o coração ferido, no fundo,
não há nada pelo qual valha a pena chorar.
Buscando a dureza do meu destino,
à sombra de meus desígnios, busco tão somente quitar
minha dívida.
Por ser mais feliz do que mereço.
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