sexta-feira, 4 de outubro de 2024


                           ser só





De tanto desgosto,

ando só

e faço gosto.

Um  dia ainda hei

de esquecer o teu rosto.


Ser só me faz melhor.

Sem falar que, em sendo só,

posso fazer o que bem quiser.

Ou simplesmente nada.


Ser só é tudo de bom.

Você não machuca ninguém,

ninguém te machuca.

Só de não ter que ficar com alguém

por imposição,

vale qualquer sacrifício.


Ser só é uma grande conquista.

Precisa estar apto, fazer por merecer.

Só não confunda ser só com solidão.

Uma é opcional, a outra uma consumição. 


Sou só desde o dia em que nasci.

Mesmo cercado de gente, vivi num mundo à parte.

Só fui me achar quando todos se foram.

Só me dei conta do quão fui feliz 

quando fiquei só.
















 

quinta-feira, 3 de outubro de 2024


                                    razões de viver





As razões de viver, busquei-as

no oco do coração

nas linhas da mão 

nos confins da imaginação

na divina provação

nas peregrinações diárias

nos consórcios das agonias

no fosso das litanias

nos olhares famintos

no aceno dos gritos

no romper dos pactos

na invenção dos amores

nas garras do hipogrifo

nas doutrinas do prazer

na menstruação dos astros

na santidade dos antros

nas entradas e saídas

na cantilena das amarguras

nas guerrilhas domésticas

na genealogia dos súcubos.



terça-feira, 1 de outubro de 2024


                        palavras ao léu





Busco nas palavras o que ser.

Trago nas mãos o amoroso desvario de aprazíveis

oferendas.

Caminho entre canteiros de flores e ásperos aromas.

Onde quer que eu vá, persegue-me uma paz que não sinto.

O coração não mente, mas se engana.

Enamorar-se de viver é meu lema, em disputas

patéticas com o tempo.

Não se iluda, a maturidade tudo subtrai.

Você mente tão gostosamente que até acredito.

Principalmente quando diz "amo sua pica".

Palavras não contam no enleio amoroso.

Meus calhamaços de sabedoria não se comparam

a teu repertório de artimanhas.

A velhice e a doença desconhecem a vergonha, quando

desprovidos de dignidade.

Tudo o que de melhor temos, não vemos.

Os degraus de ontem remontam a sonhos desfeitos, safadezas

gozos estéreis.

A cobiça é o maior dos males, mas há atenuantes.

Mágoas sem propósito vão-se pelo ralo da autoestima.

A vida cabotina tece desmemórias, para que a alma

mais obscura

possa brilhar na escuridão.





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