sábado, 28 de dezembro de 2024

                             metapoema





Meu metapoema é feito de moléculas radioativas.

Sem régua, sem simetrias, dispensa rimas e idiossincrasias. 

Perambula por caminhos forjados entre pocilgas 

e restos de desencantamento.

Flui deixando rastros compassivos e amorosos, a moendar

gramáticas escalavradas no pilão da solidão.


Meu metapoema é engenho de uma polia só.

Madeira de bater em doido. 

De lucidez condensada em canteiros de vento 

e instigâncias vãs.

Faz-se entender como pequenas encostas de rochas

escarpadas.

Formulando compêndios sobre o nada.

Engalanado para um mundo de cegos.


Meu metapoema percorre as formas possíveis

à procura do fio da meada existencial.

Debatendo-se como um besouro na noite mal-iluminada.

No desinventar da beleza, buscando

deslindar o incompreensível.

Entredevorando-se no cio da rotina.


Meu metapoema assume todas as formas e nenhuma.

Serenando sonhos invencíveis.

Quebrando lacres de inocência, cingido por quimeras

esfarrapadas e males incuráveis. 

Amaldiçoado por palavras que não

atingem seu fim.





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